– Entre ouro e miséria, servidão e ilusão-

Condenado ao esquecimento, o massacre dos garimpeiros na ponte rodoferroviária sobre o rio Tocantins, em Marabá, sudeste do estado do Pará, em 29 de dezembro de 1987, é uma oportunidade para refletirmos sobre o papel do capital, do Estado e daqueles que são os verdadeiros produtores de riqueza, os trabalhadores. O massacre ocorreu um ano após a inauguração da ponte e do início das exportações de ferro pelo Grande Projeto Carajás. Dois mortos figuram nos dados oficiais do governo do Estado; 93 desaparecidos na contagem dos garimpeiros!

A interdição da ponte representava o anseio dos garimpeiros pelo rebaixamento, com uso de máquinas (trator) da área do garimpo de Serra Pelada, esgotadas as condições da prática manual. A nossa mina rivalizava em valor e grandiosidade com o Grande Projeto Carajás. Uma parcela da sociedade sabia, desde de 1967, que Serra Pelada integrava um complexo de jazidas minerais.

A antecipação da descoberta da mina, pelas mãos de nômades camponeses (e depois por milhares de homens que viriam de todas as regiões do país), representou uma ameaça ao grande capital que estava pronto para lançar suas garras nas riquezas da região do Araguaia-Tocantins. Exemplo disso é a permanente disputa pelo território que a mineradora Vale estabeleceu com os índios, garimpeiros, e sem-terras.

O desejo político era fechar o garimpo. Não haveria alternativa senão o enfrentamento, a militarização e o uso da força de repressão. O negócio do ouro de Serra Pelada é uma controvérsia que continua até hoje, o jogo político e jurídico escamoteia a solução esperada! O Projeto Grande Carajás reaparece transvertido em S11D e com ele um ciclo de massacres se evidencia. A disputa pelo chão agrário e o subsolo mineral tem a mesma dramaticidade de décadas atrás.

O Massacre da Ponte, em 1987, contra os garimpeiros, inaugurou a prática de encurralar as vítimas e promover a execução sumária. O mesmo ritual se repetiu no Massacre da Curva do S, em Eldorado dos Carajás, em 1996, e agora com o Massacre de Pau D’Arco, em 24 de maio de 2017. Em todos eles a mesma característica de aliança entre o Estado (Polícia Militar) e o capital, seja ele mineral ou latifundiário. Mas esses são apenas exemplos emblemáticos. A destruição e a perseguição aos trabalhadores da terra são muito maiores.

O ouro depositado na Caixa Econômica Federal está longe de retornar para quem de fato o produziu, o marco geológico de Serra Pelada é objeto de divisão entre grupos e cobiças de empresas do setor e a aposentadoria do garimpeiro é uma incógnita. O massacre da ponte rodoferroviária do rio Tocantins continua impune. É urgente entendermos que a miséria imposta ao local e ao indivíduo coletivo da Serra Pelada não pode ser mera retórica ou imagem folclórica do homem indolente em meio à montanha de ouro.

O Movimento Pela Soberania Popular na Mineração (MAM) vem a público denunciar a impunidade de 30 anos consecutivos e se solidarizar com o presente fato, o aniversário de três décadas de solidão! Denunciar e exigir que se encontre soluções definitivas aos problemas que afetam o imaginário de toda uma região e de um país. É tempo para enxergar para além do objeto que reluz ouro. Viva a histórica luta dos garimpeiros de Serra Pelada.

 

Por um país soberano e sério, contra o saque dos nossos minérios!

Coordenação Nacional do MAM

Marabá, Pará

Dezembro de 2017

Foto: Reprodução Jornal do Brasil