“Na sexta-feira (16 de fevereiro) houve uma grande chuva em Barcarena, no sábado já se comentava que isso poderia acontecer, já estávamos com medo dessa bacia romper. Mas logo a Prefeitura e outros órgãos disseram que não, e isso, naquele momento aliviou um pouco a ansiedade das pessoas. Esse foi o começo de uma grande luta que estamos vivendo até agora”, relata a militante do MAM – Movimento pela Soberania Popular na Mineração no Pará, Sandra Amorim, moradora da comunidade quilombola Sítio São João, uma das comunidades ribeirinhas de Barcarena.

O relato de Sandra expõe o começo do drama vivido por milhares de pessoas que sofrem com o vazamento de rejeitos causados pela empresa norueguesa Hydro Alunorte, responsável pela contaminação das águas que abastecem as comunidades ribeirinhas que vivem na região onde a empresa faz beneficiamento de bauxita para a produção de alumínio.

O vazamento de rejeitos não inaugura no país um problema desconhecido, ao contrário expõe o grave problema mineral que existe no Brasil, onde empresas como a Hydro Alunorte se beneficiam de isenção e incentivos fiscais, baixo pagamento da CFEM (Compensação Financeira pela Exploração de Recursos Minerais) e relação promíscua com órgãos públicos.

A negativa inicial do vazamento por parte da empresa e de órgãos governamentais, expôs a população atingida a problemas de saúde, alimentar e de moradia. A confirmação do que a população vinha denunciando só veio seis dias depois, com os laudos técnicos do Instituto Evandro Chagas, no dia 22 de fevereiro: as águas dos rios de Barcarena estão contaminadas com metais pesados, como chumbo, alumínio, sódio e outras substâncias prejudiciais à saúde humana e animal.

Depois do laudo, a Prefeitura Municipal de Barcarena  anunciou que ofereceria assistência e faria um “levantamento das famílias possivelmente impactadas para identificar as necessidades de cada uma”, diz trecho de nota. “Mesmo após a confirmação do vazamento eles continuaram negando o vazamento dos rejeitos, a essa altura muitas famílias, principalmente aquelas que estão na cabeceira do Rio Murucupi já estavam sofrendo um abalo maior e sem condições de permanecer no local. A Prefeitura anunciou que distribuiria água e comida, como se o povo estivesse apenas à mercê disso. O rio Pará e o rio Murucupi estão contaminados, as águas não prestam mais, não servem mais pra nada. A palavra Murucupi significa braços tortuosos, agora nem sei mas o que significa!”, aponta Sandra.

Em nota divulgada no dia 24 de fevereiro o MAM – Movimento pela Soberania Popular na Mineração ressaltou que esta não é a primeira vez que “a empresa é responsável por poluir o meio ambiente e afetar a vida das pessoas que vivem no seu entorno. No ano de 2009 ela foi responsável por deixar transbordar “lama vermelha” (rejeito com metais pesados – arsênio, ferro, alumínio, titânio, cromo, chumbo e mercúrio) para o Rio Murucupi, o que causou mortandade de peixes, afetou o modo de vida da população, contaminação do rio e das pessoas que estão no raio de atuação da empresa. Este crime acarretou em uma multa de 17 milhões de reais que nunca foi paga. O problema é tanto, que segundo estudo da UFPA, a cada cinco pessoas que vivem na região uma está contaminada com chumbo”.

O vazamento de rejeitos causados pela Hydro Alunorte trouxe à tona outro grave problema, a empresa faz uso de um duto clandestino que libera rejeitos da atividade mineradora em nascentes de rios. No dia 28 de fevereiro, o Tribunal de Justiça do Pará determinou a suspensão parcial das atividades da Hydro, por compreender que ela “gera risco iminente de desastre ambiental de grandes proporções com a contaminação dos rios, atingindo a totalidade da população desta Cidade além da possibilidade de contaminação das águas que abastecem a Capital, justamente pela proximidade das Cidades”, aponta trecho da decisão judicial.

Para a militante do MAM, Sandra Amorim, as consequências de tudo isso já estão sendo sentidas pela população desde o início do vazamento. “Nós já estamos sofrendo, são coceiras, dores no corpo, além da questão da saúde tem a falta de moradia, porque as pessoas continuam nos locais das áreas afetadas sem ter lugar para onde ir. Houve um vazamento, os laudos comprovam e alguma coisa não foi feita para evitar isso. Esse vazamento não teve a mesma proporção de Mariana, não tirou vidas, mas precisa ser investigado e nós precisamos ter nossos direitos garantidos”, finaliza.

 

Comunicação MAM