O movimento pela Soberania Popular na Mineração-MAM e a Editorial iGuana lança o 1º volume da Coleção ‘Mineração: trabalho, territórios e conflitos na região de Carajás’, visando fomentar o debate entre academia e militância social sobre esse tema e esta região específica, uma das principais áreas de concentração da mineração no mundo. A intensidade da exploração mineral na região de Carajás é reveladora das grandes contradições e conflitos gerados nesta atividade econômica, o que a transforma em objeto de reflexão para diferentes segmentos interessados no aprofundamento de uma visão crítica sobre a mineração corporativa em seu sentido mais amplo.
A articulação da tríade conceitual trabalho, territórios e conflitos, que fundamenta a coleção e embasa a reflexão sobre a mineração nesta região, procura evidenciar a indissociabilidade entre as dinâmicas de exploração do trabalho e expropriação dos bens naturais na geração da riqueza extrativista. É nesse sentido que a tentativa de dominação territorial por parte das grandes corporações minerárias torna-se categoria chave de análise desse processo de mercantilização total da vida em áreas com forte presença de grupos sociais e formas de relacionamento com a natureza não totalmente dominados pela lógica capitalista. Inevitavelmente, desse processo, emergem inúmeros conflitos, marcas da violência expropriatória e exploratória, que em diferentes situações, desencadeiam lutas sociais explícitas por redistribuição da riqueza minerária e por construção de projetos regionais e territorialidades alternativas.
Este primeiro volume, intitulado ‘Mineração, trabalho e conflitos amazônicos no sudeste do Pará’, tem como tema central o trabalho e os conflitos decorrentes dos processos exploratórios relacionados à mineração. Na sua parte 1, denominada ‘Mineração e violações territoriais’, apresenta-se um quadro mais geral, de como historicamente estruturou-se a mineração na região e a configurou como um setor altamente mundializado, dominado por grandes corporações, incentivadas diretamente pelo Estado, e direcionador de um projeto de desenvolvimento regional que mais transfere renda que a retém, marcado por violações dos direitos sociais e ambientais. Para além das consequências já mais conhecidas, inserem-se as mais recentes destruições causadas pelo rompimento de barragens de rejeito, ainda sem registro na região de Carajás, mas que começa a ser foco de tensões à luz dos casos emblemáticos ocorridos em Minas Gerais, como o exemplo de Mariana também analisado nesta seção.
Na parte 2, intitulada ‘Trabalho e mineração no complexo de Carajás’, o conjunto de artigos traz análises sobre a exploração e precarização do trabalho em diferentes elos da cadeia produtiva mineral na região, incluindo sua transformação em ferro-gusa à base de carvão vegetal. São textos que explicitam a super-exploração do trabalho gerador da riqueza mineral e uma das principais limitações da mineração enquanto projeto de desenvolvimento regional.
Resultado de pesquisas rigorosas sobre as dinâmicas concretas da mineração em Carajás, os textos apresentados trazem uma reflexão crítica sobre a mineração nesta região específica e, de uma maneira mais ampla, sobre as contradições de um modelo de crescimento econômico dependente do extrativismo mineral como parte chave de uma pauta primário-exportadora. Reflexões mais do que necessárias para a compreensão das limitações do projeto de desenvolvimento vivenciado no Brasil e América Latina neste início de século XXI e sua incapacidade de gerar processos estruturais de emancipação social.
A organização da coleção está por conta de Rogério Rego Miranda, Rosemayre Bezerra, Bruno Cezar Malheiro, Célia Regina Congilio. Fernando Michelotii, Haroldo Souza e Charles Trocate. Além do conselho editorial da coleção, Edma do Socorro Silva Moreira, Henri Acselrad, Willian Santos Assis
Organizam o primeiro volume: Célia Regina Congilio. Fernando Michelotii e Rosimayre Bezerra.

Livro: Mineração, trabalho e conflitos amazônicos no sudeste do Pará