No último sábado, 29 de fevereiro, o Movimento pela Soberania Popular na Mineração (MAM) realizou uma assembleia popular para debater os impactos da mina Tamanduá na vida da população de Catas Altas. O evento foi realizado no distrito do Morro da Água Quente e possibilitou um maior entendimento sobre as consequências do projeto de reativação das minas da Vale no município.

Para Clóvis Augusto, militante do MAM e morador do Morro da Água Quente, a assembleia foi importante para construir uma pauta de reinvindicações e organizar os próximos passos da luta. “Um dos entendimentos coletivos é o de que não permitiremos a reativação das minas Tamanduá e Almas. Outro ponto é o de que não somos irresponsáveis em solicitar o fechamento da mina São Luiz nesse momento, sabemos da importância econômica que sua operação possui hoje no município, porém são várias questões que precisam ser corrigidas para melhorar a relação da mineração com a cidade. A assembleia esclareceu alguns pontos, por exemplo, desmentir o boato de que a reativação das minas da Vale iria gerar novos empregos, segundo os documentos da mineradora o projeto não vai oferecer novos postos de trabalho”, aponta Augusto.

Durante a assembleia vários participantes denunciaram o descaso da Vale com Catas Altas. Segundo os relatos, a maioria das contratações da empresa são de pessoas das cidades vizinhas e a mineradora nunca procurou priorizar vagas para o município. O vereador Anizio Indé colocou com indignação a humilhação ao qual, por inúmeras vezes, as pessoas de Catas Altas passaram para conseguir um emprego: “Já cansamos de ver amigos, familiares, vizinhos terem que dormir na fila do Sine em Mariana, se a Vale valorizasse nossa região não teríamos ninguém desempregado, porém ela tira nossos minérios, leva nossa riqueza e não deixa quase nada aqui, precisamos solicitar que haja prioridade na contratação de mão de obra local por parte da Vale em nossa cidade”, reivindica Indé.

Os moradores da comunidade que trabalham na Vale e nas empreiteiras terceirizadas da mineradora expuseram a difícil situação que vivem no ambiente de trabalho da mina São Luiz. Segundo os trabalhadores, a Vale é quem oferece menos direitos entre as empresas de mineração da região. O salário é o menor e as condições de trabalho foram muito criticadas, com a ocorrência de vários casos de lesões, em especial na coluna, e problemas psicológicos, como a depressão, que ataca muitos dos trabalhadores do setor na região.

Um elemento que gerou discussão foi sobre a estratégia da Vale de tentar colocar trabalhadores do setor contra a comunidade, um dos exemplos citados foi sobre a ameaça da Vale de fechar a mina São Luiz enquanto a Prefeitura não recuasse da decisão que revogou a declaração de conformidade do processo de reativação da mina Tamanduá. Para os presentes na assembleia, não é benéfico haver divisão, o importante é haver união para lutar pelos interesses coletivos e contra a ganância da Vale – que destrói os territórios, saqueia nossos minérios e precariza as condições de trabalho.

Foram debatidos também vários problemas causados no distrito do Morro da Água Quente devido à proximidade com a mina de São Luiz. A água da comunidade está constantemente contaminada com pó de minério, isso fica visível nos fundos das caixas d’água e nas roupas que, ao serem lavadas ficam todas brilhantes com a presença da poeira de minério de ferro. A proximidade da mina com a comunidade implica em problemas gravíssimos de saúde, principalmente respiratórios devido a emissão da poeira de minério. A ocorrência de retirada de amídalas em crianças e o índice de câncer está cada dia maior. Outra questão foi sobre as detonações e os prejuízos nas moradias, praticamente todas as casas do distrito apresentam rachaduras causadas pelos fortes tremores decorrentes das explosões na mina.

Um dos pontos mais problemáticos da relação da Vale no município é o aumento da restrição do uso dos espaços na comunidade. A mineradora tem coagido e reprimido, constantemente, os moradores que utilizam a barragem e as cachoeiras do Bicão e Tamanduá. Essas são áreas de lazer importantes que atraem um grande número de turistas, além de serem espaços que favorecem momentos de recreação entre os moradores. O espaço é público, é da comunidade e a Vale tem atuado de forma abusiva contra os direitos da população.

Apesar de ter tido um tema difícil, a assembleia foi encerrada com muita música, animação e partilha de uma deliciosa canjiquinha. Entre os encaminhamentos da reunião estão a mobilização e preparação para a audiência do dia 05 de março em Catas Altas, fortalecer a luta contra a reativação da mina Tamanduá e a sistematização de uma pauta sobre a mina de São Luiz para ser apresentada à empresa e aos órgãos públicos envolvidos no processo.