No dia 06 de maio de 2018 aconteceu o I Encontro Estadual de Mulheres do MAM da Bahia, na cidade de Caetité, localizada na região do Alto Sertão da Bahia. Estavam presentes mulheres de Nordestina, Bom Jesus da Lapa, das comunidades de Guirapá, João Barroca, Novo Horizonte, Cachoeira de Cima, Açoita Cavalo e Serragem. Com o objetivo de fortalecer a mobilização e organização das mulheres, foi realizado um mutirão nas comunidades rurais conjuntamente com a Comissão Pastoral da Terra (CPT). Foi feita, então, uma roda de conversa com as mulheres camponesas na comunidade de João Barroca, no dia anterior ao Encontro Estadual.
A conversa com as mulheres das comunidades foi construída também com o objetivo de troca de experiências e compreensão da importância da atuação conjunta para o fortalecimento do feminismo popular e camponês frente à problemática do modelo atual de mineração.
“As mulheres hoje tem que ter coragem e muita força. O encontro de hoje é bom porque a gente troca experiência para nos mantermos unidas e fortes. Eu vendo a terra eu fico pensando que sempre trabalhei na terra; e depois que eu conheci o movimento de mulheres eu aprendi a amar a terra” afirmou Lucinete, da Comunidade João Barroca.
Nesse sentido o espaço do Encontro Estadual trouxe uma narrativa de uma conjuntura acirrada e marcada pelo aprofundamento da crise do capitalismo. Essa crise corresponde ao desemprego, perca de direitos e acentuação da crise política viabilizada pelo golpe como estratégia de legitimar a partir de um governo golpista, portanto ilegítimo e contrário aos interesses do povo, a retirada dos direitos historicamente conquistados.
Foi firmada ainda a importância da luta das mulheres contra o conjunto de reformas em curso que impactam diretamente na vida delas. Foi fortalecida também a dimensão da importância que é as mulheres estarem reunidas discutindo a política, e de como funciona o atual projeto colocado no Brasil. Um projeto de morte que não compreende os trabalhadores e as trabalhadoras, e principalmente não reconhece as mulheres como principais mobilizadoras sobre o destino dos bens naturais da terra, que deveria pertencer ao povo.
As mulheres, nesse contexto, são afetadas ainda mais diretamente pela ofensiva do capital, pois vivem jornadas duplas de trabalho sem serem reconhecidas e lidam cotidianamente com a violência instituída pelo patriarcado em suas diversas faces.
O formato da atividade minerária – que de 2001 à 2012 quadruplicou a produção, aumentando por consequência os conflitos com as comunidades devido à tomada de terras e destruição das regiões das comunidades – abrange muitos outros problemas como: falta e poluição das águas, contaminação, doenças, mortes, acentuação da exploração e pobreza de povos tradicionais e ribeirinhos, alcoolismo e uso de drogas (que implica na cooptação da juventude pelo tráfico), violência psicológica e física (prostituição) das mulheres das comunidades; mudança na forma de produção das comunidades, pois que são prejudicadas pela contaminação, afetando o cotidiano e equilíbrio nutricional das mulheres e suas famílias que plantam hortas, roças e cuidam dos animais.
“A água tem dificuldade de vir. As pedras da ferrovia quebrou as casas tudo e eles vem e não voltam mais; dizem que volta e não volta. Primeiro era mil maravilhas o que eles falaram: a princípio era o mineroduto, eles abriram uma picada no mato, não pagaram quem trabalhou no roçado dessa picada e abriram 50 metros de largura. 11 meses depois, anunciam que as tubulações não poderiam passar, vieram medindo do outro. Nessa passagem o trem tá beirando o rio, onde tem as árvores de madeira de lei. Para que isso acontecesse 59 famílias foram divididas (36 casas estão danificadas, com denúncia no MP)”, contou Maria de Serragem da Comunidade de Serragem.
As consequências desse modelo mineral afeta primeiramente as mulheres, que sofrerão mais para limpar a casa, para cuidar das crianças e família contaminadas, que adoecem devido à exploração mineral predatória.
“O início não é diferente – sempre dizendo que vão ajudar, que vão dar tudo de desenvolvimento pra gente. Mas isso é até instalar os equipamentos. Sempre dizendo que ia favorecer o município, mas depois que começaram o trabalho as explosões e detonações são temerosas; há falta de respeito e racismo ambiental. Vemos nossa realidade ser contradita numa folha de papel onde um engenheiro diz que as casas estão rachadas porque não construíram direito. Falavam que seriam 5.000 mil empregos (90% de Nordestina); no geral são 288 pessoas trabalhando; da comunidade quilombola são 4 (eles dizem que é 20); e do município são menos de 50 pessoas trabalhando”, afirmou Nilde, de Nordestina.
A privatização dos bens comuns pelas empresas que passam a serem donas dos rios e terras faz com que as populações das comunidades tenham que mudar o curso de suas vidas. As empresas não levam em conta a relação das mulheres e do povo com a terra; roubam os bens comuns, o vínculo, lembranças, a história que as famílias e comunidades construíram e constroem suas vidas a partir da terra.
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