Dia 25 de de Janeiro, Cris acordou cedo, como todos os dias, preparou o café, seus filhos foram para escola, seu marido para o trabalho. A lida para ela começa bem antes do sol se levantar… Logo de manhãzinha tirou o leite da Vaca para fazer os queijos para venda que garante o sustento de sua família.
“No dia que a barragem rompeu era dia do comerciante que pega quarenta queijos em minha mão vir buscar a encomenda aqui no Córrego do Feijão, onde moro. Ele saiu daqui pouco antes do horário que a lama veio e destruiu tudo. Depois que isso aconteceu ninguém mais veio comprar meus queijo, perdeu um monte. Tivemos que vender nossas vacas e parar nossa produção.”
Há dois meses, não só Cris, mas todos moradores/as de Brumadinho-MG se viram em um cenário assustador de destruição humana e ambiental. Mas a vida não era fácil antes! Para quem mora em um território minerado, tudo se torna mais difícil assim que a mineradora se instala.
“O repertório é sempre o mesmo… As mineradoras antes de chegar, diz que vai trazer desenvolvimento, muitos empregos. Elas até empregam o povo das comunidades para o trabalho pesado da construção das estruturas. Quando ficam prontas elas demitem todo mundo e traz gente estudado de fora para trabalhar, daí em diante elas não se preocupam com mais nada, só com a exploração intensa do minério à qualquer custo, mesmo que custe vidas, elas só querem lucrar”, Ione Rochael/MAM-MG
A região do Quadrilátero Ferrífero em Minas Gerais – onde está localizada Mariana e Brumadinho – compreende uma extensão de 7.160km², sendo uma grande área de concentração de ferro com alto teor. A empresa VALE S.A. retira por ano, 185 milhões de toneladas de ferro do complexo ferrífero, que se revertem em quantias exorbitantes.
O lucro extraordinário obtido pela empresa VALE não volta para os territórios de onde ela extrai o minério, nem como desenvolvimento, muito menos como segurança dos trabalhadores e moradores do entorno das minas. A problemática se faz em relação ao Modelo de Mineração predatório que visa a exploração em larga escala do minério sem levar em conta toda a vida humana e natureza existente em todos os seus processos.
A arrecadação da CFEM(Compensação Financeira pela Exploração de Recursos Minerais) pela União, Estados e Municípios minerados não chegam nem perto dos valores acumulados pelas empresas mineradoras. O Brasil apresenta taxas de Compensação Financeira inferiores à outros países e é o único país que utiliza o faturamento líquido como base de cálculo, o que diminui ainda mais os valores arrecadados. O valor que fica para os municípios nem se quer cobre ou compensa os danos causados pela mineração.
Nesse sentido, a conjuntura atual, tanto de crise mundial do capitalismo atrelado ao pós-boom da mineração – fase de desvalorização dos preços dos minérios após ciclo de valorização – que vem ocorrendo desde 2013, as mineradoras tende a acelerar o processo de exploração do minério para manter e continuar aumentando o lucro passando por cima de fases que poderia garantir a extração mineral de forma segura. Contudo, o que as mineradoras fazem é pressionar agências ambientais para liberar o mais rápido o licenciamento, colocando em risco toda as expressões de vida existentes na região minerada devido a pressa para obter o máximo de lucro possível em cima de laudos fraudulentos e avaliações incompletas que não mostram para a sociedade os reais riscos e impactos do projeto.
Quando uma barragem de rejeito se rompe é a expressão de forma monstruosa de todos os direitos humanos que a mineradora responsável relegou e passou por cima até o momento. Não restando mais direitos a serem tirados, ela tira a vida e para quem fica ela deixa o rastro de lama, contaminação e destruição que inviabiliza o modo de reprodução da vida.
“A VALE matou meu irmão, matou nosso rio Paraopeba que era onde a gente pescava peixe para ajudar no nosso sustento. Nosso rio chora minério, chora água e chora sangue. Tem muito mais gente morta do que ela tá dizendo. Vamos ver até onde ela vai com essa situação. A gente quer que ela pare de causar os problemas que ela vem nos causando”, Izabel André – Moradora do Tejuco, em Brumadinho.
Imersos no sofrimento pelas percas de irmãos, pais, mães, sobrinhas, afilhados, primos, amigas, vizinhas, além do dano ambiental causados pelo rompimento da Barragem de rejeitos do Córrego do Feijão, da empresa VALE S.A., o povo de Brumadinho se levanta! Mas essa trajetória não tem um final feliz, o povo de Brumadinho se levanta movido pelo amor que sentem por seus familiares assassinados e pela insuportável sede de justiça. O hino entoado pela população é “VALE ASSASSINA!” e a luta é pelo direito de viver em paz! Sem sirene, sem helicópteros, sem máquinas, sem mortes em troca de lucro!
Essa luta perpassa pela diversificação da economia dos municípios minerados, para que não haja uma dependência da mineração e se desenvolva outras formas de geração de renda. Além disso, o povo deve ser consultado e é quem deve decidir de forma soberana se querem ou não que seja instalado empreendimentos minerários em seus territórios, e se querem são eles e elas que devem decidir como querem que a exploração aconteça e qual será o seu destino.

Eduarda Souza, Coletivo de Comunicação MAM-BA

POR UM PAÍS SOBERANO E SÉRIO:
CONTRA O SAQUE DOS NOSSOS MINÉRIOS!