Na noite do dia 17 de setembro foi veiculada uma reportagem no Jornal Nacional, veiculado na Rede Globo de Televisão, com o seguinte título: “Mineração pode ser aliada do meio ambiente”. A matéria focou a atenção em alguns mega projetos de mineração industrial instalados no estado do Pará, região da Amazônia brasileira. Com o argumento mentiroso de uma suposta mineração sustentável, apresentou grandes projetos de mineração no estado do Pará, como se fossem exemplos positivos de uma mineração integrada ao meio ambiente. Não são.
A apresentação do Projeto Grande Carajás, festejado como um exemplo máximo de integração à floresta Amazônica, é uma total fantasia. Além de conduzido uma macro região à minério-dependência, continua representando um enorme desperdício de natureza em prol do lucro de pequenos grupos privados. Uma exploração acelerada e desenfreada para garantir os altos índices de exportação das commodities minerais. Para o povo da região a mineração feita pela Vale S.A. e empresas associadas representam o desenvolvimento do subdesenvolvimento: sub empregos, aumento da violência, dependência econômica, contaminações de cursos d’água e destruição de modos de vida tradicionais.
Na região de Carajás poderíamos traduzir assim: em pouco menos de 40 anos a empresa Vale destruiu um milhão e meio de hectares de floresta, arrancados para virar carvão nos empreendimentos de siderúrgicas do Pará e, em Açailândia, no Maranhão. Nestas décadas tivemos rios represados por hidrelétricas para gerar energia para estas empresas, criação de cidades com intensa desigualdade e pobreza e as terras aprisionadas por fazendeiros que se associam à Vale, numa estratégia de dominação do território. A Vale fomenta a existência de elites políticas locais predatórias e manipula a opinião pública nacional sobre as graves consequências econômicas e sociais geradas para as vidas de aproximadamente um milhão e oitocentos mil habitantes, que moram no sudeste paraense. E afrontam permanentemente os povos indígenas e quilombolas, que são negativamente impactados pelo projeto Carajás.
Muitas informações não foram fornecidas pela reportagem da Globo, intencionalmente. Por exemplo, que existem inúmeros barragens de rejeitos produzidas pelo projeto Carajás, localizadas dentro da Floresta Nacional de Carajás. Em algumas chegamos a ter 90 milhões de metros cúbicos de rejeitos, quase o dobro do que existia na barragem Fundão que se rompeu em Mariana (MG). Um possível rompimento de barragens do projeto Carajás poderia alcançar a cidade Parauapebas, de mais de 200 mil habitantes e levar à morte todo o rio Parauapebas, Rio Itacaiúnas e o Rio Tocantins. O impacto poderia contaminar, inclusive, a baía do Rio Guajará, que chega a Belém, capital do estado do Pará. E a cidade já é profundamente afetada pela contaminação das águas devido aos sucessivos vazamentos do complexo industrial da mineradora Hydro Alunorte, em Barcarena, região metropolitana de Belém. A destruição causada em Barcarena é outro exemplo contundente dos efeitos nocivos que a mineração tem causado no estado do Pará. São quase 20 vazamentos de rejeitos, acumulando ao longo dos anos problemas de saúde para a população local, destruição de igarapés, nascentes, córregos e do Rio Mucuripe, que era a principal fonte de renda dos pescadores artesanais e população ribeirinha.
As mentiras se acumulam na reportagem veiculada pelo Jornal Nacional: o projeto da Mineração Rio Norte (localizado na região de Oriximiná, oeste do Pará) tem trazido impactos irreversíveis para as comunidades quilombolas, indígenas e ribeirinhas da região. A companhia Vale, ainda estatal, causou uma imensa contaminação de rejeitos nos anos 80 no Lago do Batata, localizado nesta mesma região. E a mineradora Rio Norte instalou barragens de rejeitos a pouquíssimos quilômetros de territórios quilombolas no Alto Trombetas. Em caso de rompimento a população quilombola de algumas comunidades teriam minutos para se salvarem. O complexo da mineradora tem afetado há muitos anos os cursos d´água da região com contaminações frequentes.
Outro exemplo supostamente positivo apresentado pela reportagem é o da empresa Alcoa, que explora bauxita na região de Juruti, oeste paraense. A Globo quis mostrar como se a realidade fosse de um paraíso, da vida do população que teria melhorado com vultuosas quantias recebidas pela comunidade. A realidade, claro, é bem diferente. Após 10 anos de implementação do projeto da Alcoa temos um fracasso total das iniciativas feitas pela empresa, no que seria a preservação ambiental e projetos voltados para a comunidade de Juruti Velho. Os projetos que a mineradora implementou no início, como uma estratégia de tentar apoio da comunidade, estão falidos. Projetos de hortas, criação de peixes e hortos não foram bem executados pela empresa e não funcionaram. Alguns não saíram do papel.
Não podemos aceitar a ideia de que estes projetos são sustentáveis e, portanto, detentores de uma “responsabilidade ambiental”. Estes projetos representam, concretamente, um grande risco para os seus trabalhadores, para as populações do entorno e para o ambiente como um todo. Os crimes que aconteceram no Brasil nos últimos 4 anos, causados pelas empresas mineradoras em Mariana, Brumadinho e Barcarena são os exemplos mais trágicos do que significa o modelo mineral brasileiro. Quase 300 pessoas foram assassinadas em Mariana e Brumadinho, por esses projetos de morte do capital. Estes crimes são o preço pago pelo “progresso” da mineração. Os crimes das mineradoras são politicamente e tecnicamente construídos!
Poderíamos citar inúmeros empreendimentos minerários que contaminam a sociedade dia a dia, no seu cotidiano de exploração. Projetos que são instalados utilizando a retórica do desenvolvimento e progresso, mas que na verdade arruínam territórios pelo tecnicismo destrutivo dos empreendimentos, pelos deslocamentos compulsórios, pela concentração de renda e pela extrema pobreza gerada.
A matéria é transmitida no momento em que o governo Bolsonaro articula a liberação da mineração de modo irrestrito em Terras Indígenas (TI’s). E que o próprio presidente defende, insistentemente, o garimpo e a mineração industrial nos territórios indígenas para “desenvolver” o que Bolsonaro considera de áreas improdutivas. A reportagem da Globo não é uma coincidência neste contexto. A Amazônia Legal é exatamente a área mais desejada para o capital mineral. E a maior proteção hoje para barrar a mineração desenfreada na Amazônia são, justamente, as Terras Indígenas. Afirmar que “a mineração pode ser aliada do meio ambiente”, e focar nos grandes empreendimentos minerários localizados na Amazônia paraense, é abrir o caminho para o discurso de que a mineração pode ser conciliada com os territórios indígenas. Ou, ainda pior: que a mineração pode ajudar os territórios indígenas.
A Amazônia não tem nada a comemorar com as empresas de mineração que atuam na região. A VALE e as grandes mineradoras do capital mineral tentam sequestrar a política e subordinar o Estado. E buscam convencer a população através de matérias pagas e mentirosas como a veiculada pela Rede Globo, que sempre esteve contra o interesse do povo brasileiro e à serviço do capital. A reportagem do Jornal Nacional é mais um exemplo indignante de como a Globo tenta enganar o povo.
Por soberania popular na mineração!
Por territórios livres de mineração!
Por controle popular das empresas de mineração!
Por um país soberano e sério! Contra o saque dos nossos minérios!
Movimento pela Soberania Popular na Mineração – MAM
Marabá (PA), 19 de setembro de 2019
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