No dia 13 de dezembro de 2010 a Globest Participações Ltda., formou uma sociedade constituída com mais duas empresas estrangeiras, uma chinesa e outra inglesa que em seguida formaram um consorcio e se instalaram na da Serra do Besouro em Quiterianopolis-CE, para iniciar as atividades de exploração da mina ferro. O anúncio chegou para as comunidades de Bandarro e Besouro quando as explosões de dinamites surrupiaram o sossego dos camponeses somado a caminhões e maquinas pesadas que começaram a passar no terreiro das casas e, principalmente, com a poeira que logo virou nevoeiro que pairava sobre as plantações e residências levando o medo e a doença. Era o tal progresso tão falado que trazia consigo a mineralização do ambiente e dava os primeiros sinais que os modos de vida daquele território estaria com os dias contados.
A partir de então, as comunidades iniciaram uma serie de denuncias que a empresa Globest além de saquear o minério de ferro, saqueou também a água, assoreou e poluiu o Rio Poty com rejeitos, contaminou o solo e as plantações dos camponeses, que os animais morriam porque comiam forragem misturada com poeira do pó de ferro e, principalmente porque as pessoas sobretudo as crianças e os mais idosos começaram a sofrer com doenças respiratórias e dermatológicas. Prova mínima disso é que até os órgãos ambientais (SEMACE e IBAMA) mesmo considerados morosos nesse caso, aturam a mineradora por 14 crimes ambientais. O mercado financeiro das Commodities transferia a Serra do Besouro para a China nos porões de navios e deixava para traz um território camponês escravo do medo e recheado de incertezas.
Mas, o sertanejo, como disse Patativa do Assaré, é um povo que padece, mas não esmorece e procura vencer. As denúncias ecoaram longe. A organização e mobilização das comunidades camponesas que se juntaram com movimentos sociais fizeram as denuncias chegar até o Estado e aos órgãos competentes que tem o papel de serem vigilantes dos direitos básicos que constitucionalmente nos é
garantido. Assim, os camponeses/sertanejos filhos do Nordeste, cabras da Peste, expulsaram a mineradora Globest no mesmo dia em que consorcio criminoso completaria 7 anos, 13 de dezembro de 2017. E venceram.
O povo camponês resistiu e provou que a vida aqui só é ruim, quando não chove no chão, mas se chover dá de tudo e fartura tem de montão. Mas provou também que não dar para ser escravo de ninguém. Provou ainda que a pior seca que lhes pode acontecer, é a mineração, que por 7 anos tirou a capacidade de produzir alimentos. Enfim, provou que a terra, a água e o Rio Poty são sobretudo extensões dos corpos campesinos que habitam aquele território. Por isso, os camponeses dizem até hoje que a mineração é a morte.
Hoje, já completam-se 2 anos que o milho, o feijão, o jerimum, a melancia, o gergelim, o mamão, a mangueira, o coqueiro, a acerola, a laranja, o limão, o tamarindo, as planta nativas da Caatinga, as hortaliças diversas, as plantas medicinais, a galinha, o peru, o pato, o capote, a ovelha, a cabra, a vaca, o porco, entre tantos outros elementos vivos, jorram como saúde e alegria das entranhas da terra camponesa nas comunidades de Bandarro e Besouro. O campesinato disse não a mineração e cobra do Estado as respostas sobre os crimes cometidos contra o Sertão!
“Quem anda nos trilhos é trem de ferro, sou água que corre entre as pedras: liberdade caça jeito” – Manoel de Barros
Mais informações assista ao documentário: Sertão dos Inhamuns: Mineração e Destruição
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