Recente levantamento feito pelo MAM e pesquisadores aponta gravidade da situação, reflexo de um governo inexpressivo no combate à pandemia mundial do novo coronavírus
*Texto: Coletivo de Comunicação do MAM-MG
Passamos de 1 milhão de infectados pela Covid-19 em nosso país. O saldo neste 25 de junho aponta que o Brasil tem 54.434 mortes, o que representa mais que o dobro de Índia, China, Paquistão e Indonésia juntos. Em mais um levantamento realizado pelo Movimento pela Soberania Popular na Mineração (MAM) essa semana, os números de contaminados pela Covid-19 no estado de Minas Gerais apontam que a mineração ainda é uma das principais rotas de contaminação nos municípios brasileiros, e um dos fatores responsáveis por isso é o fato do governo Jair Bolsonaro ter determinado a essencialidade total da atividade para a economia em tempos pandêmicos.
Essa semana Minas Gerais bateu o recorde de mortes confirmadas em 24 horas na última quarta-feira (24), somando em apenas um dia 51 óbitos à lista de mortes por coronavírus confirmadas pela Secretaria de Estado de Saúde. No total são 771 mortos pela doença em todo o Estado. O governo Zema mantém uma política negligente, com ausência de medidas capazes de melhorar as condições para enfrentar a pandemia e subnotificando os casos no estado. Os dados apresentados diariamente pelo governo estadual são muito inferiores aos divulgados pelas prefeituras.
Itabira eleva taxa de crescimento dos casos confirmados após retomada das operações da Vale
Na semana passada, em publicação do MAM, foi possível verificar a significativa redução da taxa de crescimento dos casos confirmados em Itabira após a interdição das operações da Vale. A taxa de propagação semanal dos casos de coronavírus no município estava em rápida ascensão, com uma média de crescimento em 22%. Com a suspensão das atividades da mineração, a taxa de crescimento diminuiu para 4%. Porém, no dia 17, a Vale conseguiu reverter a situação e retomar as operações na cidade. Do dia 17 até 24 deste mês houve um crescimento de 15% dos casos confirmados, de acordo com os dados da Prefeitura. Ou seja, a continuidade das operações da Vale no município está acelerando a disseminação da doença colocando em risco os trabalhadores e toda população de Itabira.
Multinacional Anglo American é a responsável pela disseminação do coronavírus em Conceição do Mato Dentro e região
A continuidade das operações do Projeto Minas-Rio, da mineradora Anglo American, tem potencializado a contaminação da doença em Conceição do Mato Dentro e em todos os municípios da região, como Serro, Alvorada de Minas e Dom Joaquim. O primeiro caso da região foi de um trabalhador da mineradora e, desde então, o número de pessoas infectadas não para de crescer. Os casos confirmados na cidade já chegam a 78, sendo que há 558 casos notificados aguardando testagens. A mineradora não tem testado seus trabalhadores, mantem uma postura de completa negligência dos riscos à saúde da população e ameaça toda a região com a continuidade de suas atividades.
Em Brumadinho, terceirizadas da Vale disseminam Covid-19 pelo município
Nessa semana faz um ano e cinco meses do crime da Vale que matou 270 pessoas em Brumadinho e destruiu toda a bacia do Rio Paraopeba. A prática contínua da empresa de negação e violação dos diretos das comunidades atingidas se acentua ainda mais nesse momento de pandemia. Além da tentativa de criminalizar as lideranças na região, a Vale e suas empresas terceirizadas têm sido o principal vetor de propagação do coronavírus.
Os casos confirmados entre os trabalhadores da mineradora e suas terceirizadas estão crescendo cada dia mais, este fato tem alarmado o município e preocupado todos os familiares. Ao proporcionar um ambiente de trabalho propício à propagação do coronavírus, a Vale tem sido a principal responsável pela contaminação dos trabalhadores e comunidades.
Além de submeter os trabalhadores a uma condição de risco, a Vale impede as comunidades de realizarem a quarentena de maneira adequada. Essa é uma questão que a comunidade de Ponte das Almorreimas tem enfrentado cotidianamente. Para Carolina Resende, professora da PUC-Minas e referência na atuação de projetos de extensão na comunidade, as intensas obras e o grande contingente de funcionários da mineradora e suas terceirizadas tem imposto uma nova dinâmica social no local, com outros valores e impedindo a comunidade de manter seus modos de vida.
“A Vale hoje toma conta da comunidade, as obras alteraram o ritmo de vida e impedem que as famílias realizem de maneira autônoma a quarentena. São muitos funcionários circulando na comunidade e já há relatos de pessoas que foram contaminadas por essa convivência próxima com os trabalhadores das empresas”, afirma a pesquisadora.
Assim como Brumadinho, as obras de reparação dos danos causados pelo rompimento da barragem de Fundão em Mariana têm sido um fator que tem elevado os casos da Covid-19 na região. O prefeito de Mariana chegou a interditar, por alguns dias, as obras da Renova devido à grande movimentação de trabalhadores vindo de fora.
Se nos casos dos rompimentos das barragens do Córrego do Feijão e de Fundão, em Brumadinho e em Mariana respectivamente, a Vale, a Samarco e a BHP Biliton já sabiam da iminência do rompimento e optaram por manter suas operações (mesmo sabendo que estavam colocando centenas de vidas em risco), não é de se assustar que elas façam o mesmo neste momento de pandemia. A continuidade das operações minerárias durante a pandemia é uma tragédia anunciada e ainda vamos ver, infelizmente, muitas mortes devido a atuação gananciosa das mineradoras no Brasil. Este fato torna ainda mais evidente que, para o capital mineral, não importa as consequências para implantação e manutenção de seus projetos, o lucro estará sempre acima da vida.
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