A Vale anunciou, no último dia 18, a elevação do nível de emergência para 2 da barragem Norte/Laranjeiras, planejando a evacuação de mais de 30 famílias e 800 animais na região de São José de Brumadinho, em Barão de Cocais (MG).
A barragem, que tem 56 metros de altura e 32,3 milhões metros cúbicos de volume, já estava interditada desde março deste ano, pela falta de entrega por parte da mineradora da Declaração de Condição de Estabilidade (DCE) nas duas campanhas da ANM de 2020 – que acontecem anualmente nos meses de março e setembro. A estrutura está classificada como de Dano Potencial e Categoria de Risco (CRI) altos. A estrutura está desativada desde 2019 mas, segundo os trabalhadores, ela não apresenta riscos de rompimento.
O anúncio tem causado desespero nas famílias e para toda região de Cocais, distrito onde está localizada a comunidade. Todo o território é alvo de tentativa de apropriação da Vale há anos, desde o início de implantação da mina Brucutu, em 2006. Agora, a Vale, aproveita esse difícil momento em meio à pandemia da Covid-19 e usa a elevação do nível de emergência da barragem para se apropriar do território.
Clovis Augusto, militante do MAM, denuncia a tentativa da Vale de se apropriar da comunidade de Brumadinho, em Barão de Cocais. (Vídeo: MAM)
Essa é a estratégia recente que a Vale tem utilizado para controlar os territórios de interesse da mineradora. Assim foi com a região de Socorro, em Barão de Cocais, que desde 08 de fevereiro de 2019 sofreu evacuação e que tem sido tomada por inúmeros projetos de exploração mineral, inclusive da própria Vale. O mesmo foi realizado em Antônio Pereira, em Ouro Preto, com a evacuação de dezenas de famílias e que também é alvo de projetos de expansão minerária da Vale.
A comunidade de São José de Brumadinho possui uma bonita história de resistência ao avanço do projeto Mina do Brucutu, que tem como plano transformar a região em um grande complexo de barragens de rejeitos. A comunidade possui patrimônios culturais tombados pela Prefeitura e é reconhecida por toda a região como um local de peregrinação e encontros religiosos.
O local pretendido de ser evacuado pela Vale abriga o santuário de São José de Brumadinho, onde há relatos da ocorrência de um milagre em 1742 e, por isso, a região recebe mensalmente, no dia de São José, centenas de pessoas que vêm exercer sua fé e celebrar com o padroeiro dos trabalhadores.
A Mina de Brucutu, a maior da Vale no estado de Minas Gerias, está em plena expansão e ameaça toda a região de Cocais. A barragem de rejeitos do Torto já está em instalação, há o plano de construção de uma terceira barragem, denominada Tamanduá, que junto com a barragem Norte/Laranjeiras transformará o território em um complexo de reservatório de rejeitos. Ademais, a cava do projeto Brucutu segue em direção à sede do distrito de Cocais e planeja o desvio de um trecho da rodovia estadual MG-129, a estrada mais importante de ligação dos municípios da região.
Essa é mais uma ação criminosa da Vale em utilizar o terror das barragens para evacuar territórios onde possui interesse minerário. As famílias não sairão dos locais até possuir todas as informações da condição de segurança da barragem e a comunidade não abrirá mão de seu local sagrado para as peregrinações e exercício da fé, que é o sagrado santuário de São José de Brumadinho.
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