A Companhia Vale forneceu dois ônibus para os policiais na realização da chacina
*Por Coletivo de Comunicação MAM-PA
Imagem: Sebastião Salgado
A Vale e o Massacre
Faz 25 anos. No dia 17 de abril de 1996, foram mortos 19 trabalhadores rurais no confronto, dois morreram em decorrência dos ferimentos, totalizando 21 mortes; mais de 60 feridos e sete desaparecidos.
Um dos principais massacres do século xx, teria a participação da mineradora Vale, famosa atualmente por colecionar crimes contra a humanidade nos últimos anos com os rompimentos de suas barragens matando centenas de pessoas em MG.
No depoimento, o Tenente Manoel Mendes de Melo, à polícia judiciária da Secretaria de Estado da Segurança Pública do Pará confirmou que “a tropa foi conduzida em dois ônibus da empresa Transbrasiliana… Tendo estes dois ônibus sendo cedidos pela Companhia Vale do Rio Doce”.
Segundo apuração do jornalista Eric Nepomuceno em seu livro “Massacre Eldorado do Carajás: uma história de impunidade”, “a mineradora tinha um suposto Sem-Terra que atuava como secretário de atas nas reuniões realizado no acampamento que repassava informações para a polícia militar, em Parauapebas”.
A preocupação da empresa e suas ações de espionagem era por conta das ações do movimento no inicio dos anos de 1990, justamente nas estradas que ligavam a Serra de Carajás, local da mina da Vale, até onde existia o polo guzeiro nas proximidades da entrada da cidade de Marabá.
“Esse ferro retirado da mina, eram em grande medida transportado de caminhão, ou seja, quando havia bloqueios de estrada pelo MST, atrapalhava o processo escoamento da Vale” explica Márcio Zonta, Coordenado Nacional do MAM.
Além disso, a mineradora teria outra preocupação “a formulação de um movimento camponês na região que não existia de maneira organizada como o MST que passa a estabelecer um movimento que poderia atrapalhar o processo operativo da empresa na região, era um risco.” reflete Zonta.
Um histórico de conflitos
O estopim do conflito entre a Vale e o MST em abril de 1996 teve episódios anteriores. Em 1994, o movimento ocupou com duas mil famílias, uma área da mineradora em Carajás (PA).
“Quando fizemos a ocupação da área e fomos despejados marca o nascimento do conflito entre a Vale e o MST na região”, afirma Jorge Neri, Membro da Coordenação Estadual do MST, no Pará.
Mulheres, homens e crianças foram despejados pela Primeira Companhia Independente de Policiamento de Meio Ambiente e a guarda privada da Vale.
A então Companhia Vale do Rio Doce e a Polícia Militar (PMPA) tinham um convênio: a companhia financiou parte dos gastos da PM e, tal investimento, gerou o agrupamento denominado de Primeira Companhia Independente de Policiamento de Meio Ambiente de Parauapebas.
“A função do agrupamento seria realizar repressão em quem oferecer risco ao patrimônio da empresa” elucida Neri. Na sequência, a ocupação próxima área da empresa que gerou ao assentamento Palmares marca definitivamente o conflito entre ambos.
“Quando o movimento estava tentando se reproduzir em Parauapebas, a empresa privada de vigilância da Vale do Rio Doce prendeu, torturou e espancou camponeses no ato de ocupação na cidade”, revela Ayala Ferreira, Coordenadora Nacional do MST.
Cultura da Impunidade
Na América latina a maioria dos casos de assassinatos estão relacionados a povos e populações afetadas pela mineração e, aproximadamente, 90% dessas mortes que ocorreram no Brasil, aconteceu na Amazônia, conforme informações do relatório da Global Witness de julho de 2020.
Para Ayala, o Massacre de Eldorado dos Carajás foi um episodio do histórico de violência que ocorre no sul e sudeste do Pará, uma fronteira para a expansão das atividades do agronegócio e da mineração que coloca esses em conflito com os moradores do campo e das cidades, provocando formas diversas de violência.
“Mesmo passado o Massacre de Eldorado dos Carajás, outros assassinatos, outros massacres ocorreram nessa região e outras regiões de nosso país. Essa violência é resultado direto da cultura da impunidade que se configura nesse cenário de conflitos agrários da luta pela terre e território nesse país”, define Ayala Ferreira.
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