Vinte e oito de abril guarda uma face sombria para a classe trabalhadora mundialmente, principalmente no setor da mineração: foi no ano de 1969 que uma explosão na mina de Farmington, no estado da Virgínia, nos Estados Unidos, matou 78 trabalhadores. O episódio fez com que a Organização Internacional do Trabalho (OIT) estabelecesse este como o Dia Mundial da Segurança e da Saúde no Trabalho, sendo uma data em memória das vítimas de acidentes e doenças do trabalho, criada para conscientizar a sociedade a respeito do assunto.
Esse pode até ser um fato emblemático para nós, do Movimento Pela Soberania Popular na Mineração, mas é curioso que nem mesmo o crime de rompimento da barragem de Fundão, em Mariana (MG), que matou 14 trabalhadores e cinco moradores em Bento Rodrigues, tenha chamado a atenção da sociedade para a questão dos acidentes de trabalho – aqui, as manchetes eram todas focadas na vasta destruição ambiental ao longo do Rio Doce.
Foi preciso passar 50 anos para que 272 mortes, sendo 130 de empregados da mineradora Vale S.A. e 118 de trabalhadores e trabalhadoras de empresas terceirizadas na mina Córrego de Feijão, em Brumadinho, também em Minas Gerais, para que o mundo passasse a ver sensivelmente os riscos alarmantes (e estratégicos) do universo do trabalho na mineração, quando do crime de 25 de janeiro de 2019.
Segundo o Relatório da SEGUR – Análise de Acidente de Trabalho Rompimento da barragem B I, o crime resultou em 270 mortes. Porém, depois que os auditores fiscais divulgaram este relatório, foram reconhecidas outras duas mortes e, por isso, passamos a falar em 272 vidas perdidas, das quais 258 eram de trabalhadores e trabalhadoras, três de estagiários da empresa, 127 empregados diretos, 118 terceirizados, 12 trabalhadores externos (rurais e da pousada) e 12 pessoas da comunidade e/ou turistas.
“A mineração mata três vezes mais que qualquer outra atividade aqui no Brasil e, se pensarmos na cadeia produtiva na qual a mineração está inserida, o setor metalúrgico é um dos responsáveis pelo maior número de acidentes com lesões graves e amputações de mãos no país”, afirma Marta de Freitas, coordenadora do Fórum Sindical e Popular de Saúde e Segurança do Trabalhador e da Trabalhadora de Minas Gerais (FSPSST/MG) e que participa, atualmente, de um projeto de pesquisa na Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) sobre os impactos na saúde do trabalhador da mineração aqui no Brasil.
Diante do grave contexto de pandemia da Covid-19, trabalhar em uma mineradora, inclusive nas grandes empresas, é quase uma garantia de ter seus direitos desrespeitados – sem direito à saúde e com vidas sendo negadas. “Ao considerar a mineração como atividade essencial para garantir o lucro das empresas e dos acionistas, o governo coloca milhares de trabalhadores e trabalhadoras, seus familiares e toda a população das cidades mineradas e ou das impactadas à uma exposição do risco de contaminação da Covid-19”, complementa Marta, sobre o Decreto nº 10.329, de 2020, do Ministério de Minas e Energia, que estabelece atividades de lavra, beneficiamento, produção, comercialização, escoamento e suprimento de bens minerais como essenciais.
Conheça outros acidentes de trabalho no mundo da mineração:
A luta dos mineiros de Nova Lima, em Minas Gerais, que levou a empresa Morro Velho, atual AngloGold Ashanti, a mudar o seu processo de trabalho para prevenir a silicose, forma de pneumoconiose causada pela inalação de finas partículas de sílica cristalina, que é caracterizada por inflamação e cicatrização em forma de lesões nodulares nos lóbulos superiores do pulmão. Provoca, na sua forma aguda, dificuldades respiratórias, febre e cianose. A empresa foi condenada a pagar indenização para centenas de portadores da doença.
O processo penal contra os responsáveis técnicos e de saúde e segurança do trabalho pela morte de 31 mineiros devido a uma explosão, no dia 10 de setembro de 1984, de uma mina de carvão subterrânea em Urussanga, no Sul de Santa Catarina. Os trabalhadores e trabalhadoras morreram por asfixia e queimaduras.
O caso dos mineiros no Chile. A tragédia ocorreu em 5 de agosto de 2010, quando uma pedra de setecentas toneladas bloqueou a única saída para os trabalhadores da mina de cobre e ouro San José, propriedade da Compañia Minera San Esteban Primera, deixando 33 mineiros presos na mina por 69 dias.
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