Por Ananda Ridart, da página do MAM
Os danos do crime de Mariana se estendem também no âmbito psicológico da população, que tem apresentado consequências do trauma na saúde mental. Durante esses seis anos, a perda do território, de entes queridos, o terror vivido naqueles dias do desastre e a morosidade das reparações tem provocado transtornos mentais nas pessoas que continuam revivendo esse momento.
Em 2017, uma pesquisa conduzida pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e Cáritas Regional de Minas Gerais, constatou transtornos mentais na população diretamente atingida pelo rompimento da barragem. Foram observados comportamentos de estresse, depressão, ansiedade e tendências suicidas na população entrevistada.
Nos últimos anos, a psicóloga Georgina Motta desenvolveu uma pesquisa sobre a saúde mental dos trabalhadores no caso do rompimento da barragem em Mariana. Através de entrevistas com trabalhadores da Samarco e trabalhadores do município de Conceição do Mato Dentro, foi possível observar uma tendência ao sofrimento psíquico entre os trabalhadores que vivenciaram o desastre.
“O acidente de Mariana pode ter ocasionado um aumento da tendência a transtornos mentais comuns, como ansiedade, depressão e insônia. O desastre promoveu mudanças no comportamento dos trabalhadores e no seu relacionamento com a comunidade, talvez isso seja um fator contributivo para o surgimento de sofrimentos mentais”, explica a psicóloga.
Há uma dificuldade do trabalhador em se adaptar nessa sociedade após o rompimento da barragem, atuando em subempregos. Eles lidam com a falta de suporte psicológico e financeiro da mineradora por não serem considerados vítimas diretas do acontecido, com o estresse, desalojamento e alterações no modo de vida das comunidades, além da culpa atribuída a eles pelo crime.
“Além da perda do emprego, houve uma perda na qualidade das relações com a comunidade, porque os trabalhadores passaram a ser vistos como, de certa forma, culpados pelo rompimento. Eles também foram vitimados por terem parentes e amigos que estiveram na lama e foram atingidos indiretamente”, esclarece Georgina.
Muito dessa culpabilidade é atribuída pela perda da comunidade Bento Rodrigues, os trabalhadores se sentem desiludidos pela Samarco não ter evitado o rompimento da barragem. De acordo com Marta de Freitas, engenheira que na época trabalhava na Secretária de Saúde de Minas Gerais, os trabalhadores foram excluídos do ressarcimento promovido pela Renova e possuem dificuldade de conseguir empregos por ficarem marcados como pertencentes ao crime de Mariana.
“Vi profissionais capacitados se culpando por não ter conseguido evitar que aquilo acontecesse. Há um sentimento de inutilidade e incapacidade, muitos trabalhadores não voltaram a trabalhar, não conseguiram, porque a sociedade de maneira geral os considera como culpados, como se eles tivessem conhecimento e poder para impedir aquilo. Outros ficaram tão traumatizados que preferiram se afastar, são danos psicológicos imensos”, esclarece Marta.
As modificações nas vidas das vítimas do crime de Mariana causam fortes dores emocionais ligadas à perda do território, da identidade, ao sentimento de injustiça e à demora no processo de reparação que prolonga esse sofrimento. “São várias as violações até os dias de hoje que causam prejuízo na saúde mental da população atingida, a tristeza de ver pessoas falecerem sem ter sua reparação garantida, o medo e o receio da comunidade ser extinta. Por exemplo, as crianças de Gesteira estão indo embora… as pessoas compreendem que o futuro daquela comunidade pode não existir mais, isso é irreparável. É o fim da identidade, pertencimento e história daquela população”, conta a arquiteta Karine Carneiro.
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