Foram distribuídos alimentos agroecológicos, cestas básicas, marmitas e sementes crioulas, além das doações de sangue. As ações de solidariedades e denúncias foram realizadas em defesa da Soberania Alimentar no país
Caio Barbosa
Brasília | MPA Brasil
Durante a Jornada da Soberania Alimentar: “contra o agronegócio para o Brasil não passar fome”, que aconteceu nos dias 10 a 16 de outubro, os movimentos sociais que integram a Via Campesina realizaram ações de solidariedade e denúncia em 16 estados brasileiros, a jornada de luta faz parte das ações de comemoração dos 25 anos da construção do projeto Soberania Alimentar. Foram doados mais de 20 toneladas de alimentos agroecológicos, 2 mil marmitas e cestas básicas por várias cidades no país. Além da distribuição de alimentos, também aconteceram doações de sangue, mudas e sementes crioulas durante as atividades.
Hoje no mundo, segundo os dados do relatório da Organização das Nações Unidas – ONU, temos mais de 2,3 bilhões de pessoas (ou 30% da população global) que não tiveram acesso à alimentação adequada durante todo o ano de 2020. Desse total, 60 milhões de pessoas estão na América Latina e no Caribe. No Brasil, dados do Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no país, realizado pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede Penssan), indicaram que nos últimos meses do ano passado mais de 19 milhões de brasileiros passaram fome e mais da metade dos domicílios no país enfrentou algum grau de insegurança alimentar.
Os dados são um alerta da grave crise mundial que atinge a sociedade, e principalmente a população brasileira, que está enfrentando uma série de crises sociais. As causas dessas crises, é o reflexo da falta de políticas públicas, do atual governo de Jair Bolsonaro (sem partido político), para mediar problemas como o desemprego, a pandemia e a fome. Diante desse cenário, a Via Campesina Brasil reafirmou durante a Jornada, com muitas doações e denúncias, sua trajetória ao longo desses 25 anos em que defende um projeto de Soberania Alimentar.
“Nuestra tarea histórica es garantizar que ningún ser humano pase hambre”
NOSSA TAREFA HISTÓRICA É GARANTIR QUE NENHUM SER HUMANO PASSE FOME
As doações de alimentos agroecológicos superaram as 20 mil toneladas, além disso, foram distribuídos leite, caldo de cana, marmitas, sopas e brinquedos durante as ações de solidariedade em mais de 16 estados, entre eles, Pernambuco, Espírito Santo, Rondônia, Rio Grande do Sul. Em Sergipe, houve doações de sangue para os hemocentros locais, doação de sopa para moradores em situação de vulnerabilidade social, além de encontros temáticos sobre a Soberania Alimentar.
As ações de solidariedade entre a classe trabalhadora do campo, da floresta, das águas e da cidade foram fundamentais durante a Jornada e as celebrações da Via Campesina, pois levaram ao povo brasileiro um pouco de esperança, diante dos desafios causados pelas crises: econômica, ambiental, política e sanitária. Neste cenário as ações de solidariedade “não é caridade, não é dar o que nos sobra, mas é de fato construir uma unidade em luta. Nossa solidariedade tem o objetivo de construir um amanhã melhor” essa é a afirmação Michela Calaça do Movimento de Mulheres Camponesas, integrante da Via Campesina.
Os 25 anos de luta em defesa da Soberania Alimentar ficaram registrados pela força dos movimentos que estão resistindo aos inúmeros ataques realizados por Bolsonaro e o agronegócio. Além da força de auto-organização, que convergiu neste ano em atos de solidariedade, os movimentos da Via também fizeram denúncias contra o agronegócios, que vem destruindo a natureza, os territórios e ameaçando os povos tradicionais e originários. Essas ações de violências tem o respaldo e incentivo do governo Bolsonaro, que segue adotando políticas favoráveis ao agrohidronegócio, aos garimpeiros e grileiros.
O conjunto desse favorecimento ao agrobusiness, colocou novamente o Brasil no Mapa da Fome. “Mas essa fome não ocorre por acaso, nem mesmo porque a natureza quis, é fruto da política de Bolsonaro que só investe em produção de mercadorias para vender para fora do país, nós temos nossos territórios atacados sucessivamente pela ampliação dessa produção que o agronegócio faz de soja, eucalipto, carne de gado, entre outros. O agronegócio não alimenta o Brasil”, explica Michele ao reafirmar a posição política da Via Campesina.
25 ANOS DEFENDENDO A SOBERANIA ALIMENTAR DOS POVOS
A Via Campesina foi quem defendeu desde o princípio o conceito de “Soberania Alimentar”, durante a Cúpula Mundial sobre a Alimentação realizada em Roma pela Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), em 1996. Com o objetivo de ser oposição a o conceito de “segurança alimentar” promovido pelos governos na época e que, no entendimento dos movimentos camponeses, favorece mais os interesses do agronegócio do que o dos povos.
Ao falar dos 25 anos de luta por um projeto de Soberania Alimentar defendido pela a Via Campesina, Michele Calaça aponta que a organização segue reafirmando sua missão de erradicar a fome no mundo, porém faz um alerta ao desinteresses dos governantes “reafirma (fim da fome), mas ao mesmo tempo demonstra que estamos a 25 anos apresentando propostas concretas de como não haver fome no mundo e os governos seguem nos ignorando e no lugar de fortalecer a produção camponesa, fortalece aqueles que só querem o território para tirar lucro”.
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