Por Dioclecio Gomes, do MAM-PA
Na semana em que o Movimento pela Soberania Popular na Mineração, o MAM, completa 10 anos de existência, a Tutaméia TV entrevistou dois dos dirigentes nacionais do movimento, Maria Júlia Andrade e Charles Trocate, que relembraram um pouco do histórico de construção do Movimento e fizeram um balanço dos últimos dez anos de conflito mineral no país.
No bate-papo, conduzido pelos comunicadores Eleonora de Lucena e Rodolfo Lucena, foi abordado como o MAM surge fruto da necessidade de se discutir com a sociedade sobre um problema concreto brasileiro, a mineração, que a mais de 300 anos vem sendo minerado e, a partir da primeira década do século 21, sofre com o processo de exploração intensificado de minérios para sustentar o modelo de desenvolvimento capitalista.
“A esquerda como um todo tinha dificuldade de trabalhar com a temática da mineração, e aí foi diante dessa dificuldade que um grupo de militantes se reuniu em 10 de abril de 2012, em Parauapebas, no Pará, onde está situado o projeto Grande Carajás, sugerindo que seria preciso um movimento de caráter nacional que enfrentasse o problema mineral”, relembra Maria Júlia, referindo-se ao projeto que foi construído pela Companhia Vale do Rio Doce, atual Vale S/A, no período da ditadura militar, quando do governo de João Batista Figueredo.
A Vale, que é a principal mineradora do país, ficou em primeiro lugar entre as mineradoras com conflitos socioambientais no mundo, segundo o Atlas de Justiça Ambiental (www.ejatlas.org). A mineradora possui 75 requerimentos de pesquisa mineral em terras indígenas, afetando diretamente 14 delas, liderando a classificação e violando os direitos dos povos, segundo o relatório de Cumplicidade na Destruição IV: como mineradoras e investidores internacionais contribuem para a violação dos direitos indígenas e ameaçam o futuro da Amazônia.
Já Charles pontuou a questão da exportação ligada aos minérios, através das chamadas commodities, que são mercadorias básicas como a soja, ferro, alumínio e milho, por exemplo, que possuem seu valor estabelecido nas bolsas de valores internacionais. Na primeira década do século, a China passou a ser um grande consumidor dessas mercadorias básicas, principalmente da América Latina, especificamente do Brasil. Os contratos das commodities subiram de US$ 418 milhões para US$ 2,6 trilhões no período de 2001 a 2011, segundo o Guide to commodities, de 2013.
“A natureza do nosso país, assim como a de muitos outros países periféricos ao redor do mundo, transforma-se nos centros industriais”, pontua Charles Trocate, que complementa: “Todos os produtos necessitam de diversos tipos de minérios para serem produzidos e consumidos na sociedade. Esse ciclo de produção, no modelo que está construído, afeta desde os moradores do campo, que têm em suas proximidades a cava mineral, até quem está nas cidades e que consome o produto construído do minério”, reflete, “o que estamos vivendo é uma transição de um Imperialismo liberal americano que se desloca para um chinês”.
10 anos na construção pela soberania popular
O MAM está hoje presente em 14 estados do Brasil e coloca-se enquanto uma das formas de instrumentalizar a sociedade brasileira como um todo, abrindo diálogos para reivindicar inúmeros problemas decorrentes do universo mineral, como questões trabalhistas, de saúde, ambientais, de arrecadação financeira, como a Compensação Financeira por Exploração Mineral (CFEM) que é o pagamento obrigatório das mineradoras para federação, estados e municípios mineradoras pelo extração do minério, dimensionando esses aspectos tanto para os chamados afetado diretos quanto os indiretos pela mineração.
“Na atual conjuntura, o bloco político que governa o país diz para minerar tudo e em todos os lugares. A soberania popular pela qual lutamos é exatamente o controle da sociedade brasileira sob um tema tão antidemocrático quanto é a mineração”, afirma Charles. “Decidir outras formas possíveis de economia como a agroecologia, produzir alimentos para a sociedade de forma saudável, a não ser a do atual modelo de mineração.
Tutaméia TV
A Tutaméia TV é um serviço jornalístico criado por Eleonora de Lucena e Rodolfo Lucena, jornalistas desde 1976, que atuaram tanto na imprensa sindical e de resistência à ditadura militar assim como na chamada “grande imprensa”, com passagens pelos veículos Zero Hora, Gazeta Mercantil e Folha de S. Paulo, onde Eleonora atuou por mais de 30 anos e onde, por uma década, comandou a Redação como editora-executiva.
A transmissão ao vivo do programa, que ocorreu no dia 11 de abril, pode ser assistida por meio do endereço: https://youtu.be/I0ap2SPMPYo. Para mais reportagens, vídeos e fotos acessem https://tutameia.jor.br
Edição: Coletivo de Comunicação Nacional do MAM
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