Dessa vez foi em Santa Bárbara; população teme destruição e mortes semelhantes às que ocorreram na cidade vizinha de Mariana
Por Ananda Ridart, da página do MAM
No início do mês de outubro, a barragem Córrego do Sítio II, da mineradora AngloGold Ashanti, em Santa Bárbara, região central de Minas Gerais, entrou em nível de alerta 1 devido à identificação de uma trinca em sua estrutura durante uma inspeção de rotina. De acordo com a empresa, essa é uma medida preventiva e a barragem segue estável. Contudo, a Secretaria Estadual de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad) identificou que, na verdade, são duas trincas na barragem provavelmente causadas pelas obras de reforço que estavam ocorrendo na estrutura.
Em caso de rompimento, a população de Santa Bárbara corre o risco de viver algo semelhante ao que aconteceu nos rompimentos das barragens da Vale nas cidades de Mariana, em 2015, e Brumadinho, em 2019.
A situação deixou a população de Santa Bárbara vivendo dias de aflição e temor. Para entender mais sobre essa situação, de um novo perigo eminente de rompimento de barragem – que já se tornou rotina em Minas Gerais – a página do MAM conversou com Luiz Paulo Siqueira, da coordenação nacional do Movimento Pela Soberania Popular na Mineração (MAM). Confira:
Como realmente está a situação da barragem em Santa Bárbara, da AngloGold Ashanti?
Há uma série de informações desencontradas. Primeiro, a mineradora soltou um comunicado falando que há duas trincas na barragem e que iria elevar o nível de emergência. Depois, a empresa comunicou que tinha apresentado apenas uma trinca e a Semad, que fez uma vistoria, encontrou duas trincas – de 12 a 15 cm de largura, sendo com mais de 70 metros de comprimento.
A AngloGold Ashanti afirma que não há risco de rompimento e que a barragem se encontra estável. Como está a população da Santa Bárbara em meio à essa situação de incertezas?
O temor é a previsão do tempo. Eles estão colocando lona para cobrir as trincas, mas se chove muito, é possível que as trincas possam ampliar de tamanho e aí ela vai ter que adotar medidas elevando ainda mais o nível de emergência para o nível 2. As comunidades estão passando muito medo porque é uma região que tem muito viva essa questão de rompimento barragem, pois Santa Bárbara fica muito próxima à Mariana.
Várias pessoas da cidade tinham vínculos com trabalhadores e/ou relações de parentesco com as pessoas impactadas e que morreram em Mariana. Ainda teve algo que acirrou ainda mais esse conflito que foram, entre os anos de 2019 e 2021, os acionamentos acidentais das sirenes da barragem 4. Um dos acionamentos, em janeiro de 2021, foi em um período de muita chuva – estava chovendo a dias. Tocou a sirene pela tarde do dia 8 de janeiro, com o som mandando o povo ir embora, avisando que não era um simulado. Foi um desespero total, todo mundo correndo e abandonando coisas, carros batendo, foi um pânico geral e a sirene foi acidental.
Até hoje, a empresa não adotou nenhuma medida para reparar esses danos causados.
O Estado de Minas Gerais ou a Semad se pronunciaram a respeito dessa situação?
Não há nenhuma informação além do que é dito pela mineradora. Não temos comunicado oficial da Secretaria, apenas o resultado da vistoria que acusou duas trincas na barragem. Nós, enquanto população, estamos nos organizando, exigindo carros e suporte para as comunidades, abrigos, auxílio aluguel para quem não quer residir aqui. Exigimos, também, uma reunião com a mineradora porque ela não fornece muitas informações para a população.
Mas afinal, quem é AngloGold Ashanti?
É a maior exploradora de ouro do Brasil, que atua nos estados de Minas Gerais e Goiás, sendo a terceira maior mineradora de ouro no mundo, com suas ações na bolsa de valores de Nova Iorque e Austrália. A empresa está sendo investigada pelo Ministério Público de Minas Gerais pela insegurança de suas barragens e pelo acionamento inadequado de suas sirenes em Santa Bárbara.
Edição: Coletivo de Comunicação MAM
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