Foto: Arquivo Pessoal
Neste mês de novembro aconteceu a 27ª Conferência das Partes (COP), encontro da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC), em Sharm el-Sheikh, no Egito. A COP é um encontro realizado anualmente por representantes de diversos países para debater e negociar ações de combate às mudanças climáticas. Atualmente, é o maior evento para se pensar políticas ambientais que afetam todo o planeta.
A COP desse ano deu passos importantes nas negociações para mitigação dos impactos climáticos com a aprovação do fundo de perdas e danos. O fundo é uma demanda antiga de países em desenvolvimento que veem a possibilidade de diminuir os impactos físicos e culturais que as mudanças do clima têm provocado.
Entretanto a COP também tem suas contradições, entre seus patrocinadores estão empresas como Coca-Cola, IBM e Microsoft, que são empresas historicamente ligadas à indústria de combustíveis fósseis. Mas, para estar no palco da conferência do clima e serem autorizadas ao patrocínio, as empresas se “vestem” de verde, levantam bandeiras ambientalistas e até promovem metas de neutralidade de carbono. Com a mineração não poderia ser diferente.
As mineradoras também entraram no barco do Greenwashing das grandes empresas. A Hydro, que há 22 anos tem cometido crimes ambientais no município de Barcarena (PA), por exemplo, esteve na COP27 apresentando cases de sucesso de sustentabilidade no Estado do Pará. A mesma Hydro que, há quatro anos, contaminou rios e populações inteiras com arsênio, mercúrio, chumbo, alumínio, ferro e cobre.
*Greenwashing é a apropriação do discurso ambientalista apenas para fins de marketing de mercado, ou seja, para uma empresa ser bem avaliada aos olhos dos investidores financeiros.
Também esteve presente na conferência a mineradora responsável pelo maior acidente de trabalho da história e por um dos maiores crimes socioambientais do nosso país – a Vale. Na COP27, a empresa também apresentou iniciativas “bem-sucedidas” de descarbonização e de recuperação de florestas como se, ao longo dos últimos 10 anos, não tivesse comprometido comunidades e ecossistemas inteiros sob a sombra da “lucratividade”.
Parece fácil como as empresas conseguem se apropriar do discurso ambiental e transformá-lo em marketing empresarial. A realidade é que elas tomam pra si o discurso de reflorestamento ou da diminuição de emissão de carbono – o mínimo que podem fazer para esconder os impactos, as desigualdades e as doenças que têm proporcionado em todo território brasileiro.
É quase uma tática falar de meio ambiente e excluir a população do discurso. O ambientalismo vira uma espécie de “totem” de reflorestamento e ninguém precisa falar sobre as mais de 1.200 comunidades quilombolas desalojadas com empreendimentos em seus territórios, sobre crianças com câncer devido às contaminações dos peixes nos rios, ou sobre a população do pantanal que não consegue respirar pela poluição de ar.
Historicamente, é inegável que a COP tem contribuído para importantes avanços em negociações acerca da emergência climática. Entretanto, a conferência torna-se, também, palco para Greenwashing de grandes empresas e multinacionais, enquanto os impactos e as desigualdades provocadas pelas mineradoras deveriam ter maior espaço, sendo combatidas nos territórios e nos espaços políticos pela sociedade civil, assim como observou o MAM quando presente na COP27.
Nosso recado é: não existe justiça climática sem pessoas e sem debater os impactos das grandes mineradoras!
Foto: Arquivo Pessoal
Protesto dos povos indígenas sobre as mudanças climáticas. Foto: Arquivo Pessoal
A COP contou com os “hubs” de discussões, como este, onde os povos indígenas discutiram sobre mudanças climáticas. Foto Arquivo Pessoal
*Ananda Ridart é jornalista, cientista política e foi a COP27 como pesquisadora.
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