No dia 23 de agosto, em Brasília, foi realizado o Encontro de Parlamentares por outro Modelo de Mineração no Brasil. Neste evento, um importante diálogo se estabeleceu entre representantes do Movimento pela Soberania Popular na Mineração e membros do corpo parlamentar, com a aspiração de construir uma frente parlamentar que adote uma perspectiva crítica em relação ao atual panorama da mineração no país.
O objetivo principal desse encontro, que também seguiu com visitas a gabinetes e reuniões, foi estabelecer uma base sólida para o fortalecimento do debate em torno de questões vitais relacionadas ao setor mineral brasileiro. Em particular, foi destacada a necessidade de promover um controle social mais robusto e ampliar a transparência no que diz respeito à CFEM (Compensação Financeira pela Exploração de Recursos Minerais). Essa compensação desempenha um papel crucial, uma vez que direciona recursos financeiros para municípios e estados afetados pela atividade mineradora, contribuindo para amenizar os impactos sociais e ambientais decorrentes dessa atividade.
Outro ponto discutido durante o encontro foi a Lei Kandir, um dispositivo legal que isenta a circulação de mercadorias e serviços da incidência do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) em relação às operações que envolvem produtos primários e semielaborados. Esta lei tem sido objeto de críticas, já que sua aplicação impacta diretamente a arrecadação de recursos pelos estados e municípios produtores de recursos minerais, afetando seu desenvolvimento e capacidade de investimento em setores como saúde, educação e infraestrutura.
Idealizada pelo Ministro do Planejamento, Antônio Kandir, durante o governo de Fernando Henrique Cardoso (PSDB), a Lei trouxe consigo a continuação do Programa Nacional de Desestatização (PND), por meio de um conjunto de diretrizes voltadas para a privatização dos setores primários da economia do país. Entre eles, destaca-se a Vale do Rio Doce, privatizada em 1997. A privatização da mineradora resultou na eliminação de esforços prévios de valorização agregada antes da exportação de recursos minerais. Naquela época, movimentos sociais expressaram críticas ao modelo de exportação, apontando a falta de geração de empregos, a ausência de processos de industrialização e a carência de etapas de beneficiamento como características problemáticas.
O geólogo e professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Edson Mello, ressaltou a urgência de repensar o atual paradigma da mineração no Brasil. Ele destacou que o modelo vigente é, em muitos aspectos, anacrônico, enraizado em concepções do século XVI. Nesse sentido, Mello apontou para um descompasso entre o atual estágio da indústria mineral e a abordagem regulatória e operacional, defendendo que é fundamental abrir espaço para discussões mais amplas e inclusivas que considerem as mudanças sociais, ambientais e tecnológicas que ocorreram desde então.
Uma das críticas fundamentais apresentadas durante o encontro é a relutância do Ministério de Minas e Energia em se envolver em um diálogo significativo com movimentos sociais e a sociedade civil a respeito da reconfiguração do modelo mineral. A busca por um modelo mais responsável, sustentável e alinhado com as demandas do século XXI exige, portanto, uma abertura para o engajamento de múltiplos atores na discussão e construção de um futuro mais equitativo e consciente no que tange à exploração dos recursos minerais do Brasil.
Mineração Sustentável em Debate: A Jornada do Fórum Nacional pela Mineração Responsável
No dia 4 de agosto deste ano, a Presidência da República publicou no Diário Oficial da União a PORTARIA SG/PR Nº 162, DE 4 DE AGOSTO DE 2023, que institui, no âmbito da Secretaria-Geral da Presidência da República, a Mesa de Diálogo Temática sobre a mineração no Brasil. A criação da mesa de diálogo sobre a mineração foi idealizada pelo MAM e o Fórum Nacional da Mineração Responsável (FONAMIR), representa um passo importante na promoção de um processo dialógico abrangente sobre os impactos sociais, culturais, ambientais e econômicos da atividade mineradora.
De acordo com João Trevisan, um dos responsáveis pela ideia e membro da direção nacional do MAM, essa iniciativa surgiu a partir de uma série de conversas entre indivíduos ligados ao setor mineral. A ideia inicial era estabelecer um espaço para promover debates democráticos sobre a mineração no Brasil. Essas discussões resultaram na formação de um grupo diversificado, que incluiu representantes sindicais e trabalhadores do setor, membros de movimentos sociais, acadêmicos, profissionais de saúde e professores interessados em estabelecer uma plataforma para o debate democrático e popular.
“Diante dessa diversidade de segmentos sociais, a decisão foi tomada: o Fórum Nacional pela Mineração Responsável foi fundado. Entre as 24 propostas elaboradas para o plano de governo do PT e posteriormente para a equipe de transição, o Fórum foi uma identidade presente. A primeira conferência nacional sobre mineração, um evento participativo, foi um dos objetivos destacados.”, aponta Trevisan.
Os encontros realizados com os parlamentares iniciam esse importante diálogo, assim, a proposta do FONAMIR, se consagra como o ponto de articulação de coordenação coletiva da sociedade civil, tendo como seu principal objetivo promover uma mineração responsável, popular e soberana.
Confira fotos do encontro de parlamentares:
Movimento pela Soberania Popular na Mineração