Realizado entre os dias 7 a 9 de setembro na comunidade de Colônia do INCRA, em Itaeté – BA, o II Intercâmbio de Agroecologia e Soberania Popular da Chapada Diamantina abordou através de atividades de leitura, música, poesia, mostra de filmes para conscientização ambiental e mesas de discussão sobre os impactos da expansão de atividades de mineração na região.

Na tarde do dia 08 de setembro, o MAM – Movimento pela Soberania Popular na Mineração compôs a mesa “O mapa da mineração na Chapada Diamantina” junto ao Geografar, representado pela pesquisadora Valdirene. O objetivo da mesa foi denunciar o avanço da mineração que vem avançando sem consultar às comunidades da Chapada Diamantina. Com base nas discussões da mesa, concluiu-se que a mineração precisa servir às necessidades do povo e que é preciso discutir a questão dos trabalhadores e trabalhadoras que são explorados e mutilados a cada hora pela mineração. Para Jaine Miranda, militante do Movimento pela Soberania Popular na Mineração:

“A mineração não está pautada no interesse das comunidades e famílias do campo, causa o inchaço das cidades, o aumento da criminalidade. Este modelo de mineração, subordinado aos interesses da burguesia mineral, não promove a vida, não promove o desenvolvimento, a mineração neste modelo sem discussão popular, não promove a elaboração de políticas públicas para o campo, sendo assim, a agricultura não pode existir em conjunto com a atividade minerária”, afirma Miranda.

É preciso exercer o poder popular dentro deste modelo mineral, que segundo Valdirene, vem mapeando todo o território da Bahia impactada pela mineração. Esse modelo cria uma falsa narrativa de que só a mineração pode salvar a economia do estado. As facilitadoras do debate ressaltaram a importância dos movimentos sociais e da organização popular na construção de espaços formativos que fortaleçam a unidade do povo e de assembleias onde o poder popular seja exercido.

O intercâmbio também recebeu Marcelino Galo, Engenheiro Agrônomo e defensor do Meio Ambiente e da Agroecologia, que pontou os debates sobre o processo minerário que vem ameaçando o território da Chapada Diamantina. Em sua fala, Marcelino reforça a importância da aliança dos movimentos sociais com as comunidades chapadenses, em especial, o Movimento pela Soberania Popular na Mineração. Nas palavras dele, tendo em vista as experiências e ações, o MAM pode contribuir de forma significativa nas percepções e organização sobre problemáticas que são trazidas e intensificadas a partir de um empreendimento minerador invasivo, a exemplo dos possíveis embates por água em um território com potencial hídrico pela grande quantidade de nascentes e rios. 

“A exploração minerária é muito brutal ao explorar o meio ambiente de forma predadora, e os impactos sobre as comunidades são violentos no sentido da saúde das pessoas, dos bens naturais ali presentes, a disputa pela água, as explosões, a poeira que vem com o transporte do minério”, explica Galo.

No último dia da programação foi promovida uma visita à antiga instalação da Escola Família Agrícola de Colônia do Incra (EFACI). Na oportunidade do encontro, Vera, professora de Educação do Campo e uma das mediadoras do intercâmbio que já atuou no corpo docente da escola no período de funcionamento, relata a importância da organização da comunidade, em especial frente às tentativas de tornar a Serra da Chapadinha um território minerado, que a comunidade se posiciona como contrária, além de protestar sobre o desamparo com a escola.

Fechada desde o ano de 2017, a escola que antes era formadora de base, de jovens camponeses de diversos municípios, hoje se encontra em situação de abandono financeiro e consequentemente do espaço físico. Segundo relatos da comunidade, seu fim implica diretamente na saída dos jovens do povoado, aumentando os índices do êxodo rural e também uma redução das perspectivas locais. Para além do fechamento da EFACI, foi debatida também a questão minerária que se aproxima cada vez mais no território da Chapadinha. Vera relata que tal problemática já é uma realidade na comunidade e que encontros como esses servem para fortalecer e organizá-los para combater esse “mal”.

“Um dos problemas que a gente está vendo acontecendo na nossa comunidade aqui na Chapadinha, é a questão da mineração, a mineração vai trazer muitas questões para a nossa comunidade, o desmatamento, as pessoas que já vivem nas margens da sociedade, vai ficar muito pior, com base de exemplos de outras localidades, que já aconteceu pior, então, esse momento é um momento ímpar, para que a comunidade se sinta fortalecida para lutar contra esse mal”, conclui Vera.

Portanto, o II Intercâmbio de Agroecologia da Chapada Diamantina reforçou ainda mais a união que essas comunidades vêm realizando contra os projetos miner´ários que surgem em suas localidades, uma vez que tais projetos ameaçam o território da Chapada Diamantina em esferas sociais, ambientais e sociais. São realizações como essas que se propõem a estimular a soberania do povo, para que os mesmos tenha a voz e vez para decidir sobre seius territórios de forma organizada. As atividades foram realizadas com mística, poesia e cantigas de rodas advindas das comunidades que fazem parte da Chapada, trazendo o protagonismo das mulheres no enfrentamento ao modelo mineral predatório.

 

 

Movimento pela Soberania Popular na Mineração