Nesta quarta-feira (20/09), ocorreu o seminário “Reestruturação e Reconfiguração de Classes: Desafios estratégicos- saúde, território, mineração e o papel da ciência e pesquisa”, no Campus XII da Universidade do Estado da Bahia (UNEB), Guanambi-BA. A atividade foi construída pelo Movimento Pela Soberania Popular na Mineração (MAM), a Cáritas Regional Nordeste 3, a Cáritas Diocesana de Caetité, a Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ), a Comissão Pastoral da Terra (CPT) e da UNEB Campus XII.
O encontro contou com a presença de cerca de 100 pessoas, entre professores e estudantes dos cursos de enfermagem, administração, pedagogia, geografia e engenharia de minas. Estiveram presentes também alunos das Escolas Famílias Agrícolas (EFA) de Licínio de Almeida e Riacho de Santana, além de lideranças comunitárias e representações dos mandatos do deputado estadual Hilton Coelho (PSOL) e do vereador Paulo Costa (PCdoB).
O seminário buscou fazer o debate sobre os impactos de ordem ambiental, na saúde e aos trabalhadores, gerados pela mineração na região dos municípios de Guanambi, Caetité, Licínio de Almeida e Pindaí. Essa região é impactada principalmente pelo projeto Pedra de Ferro da Bahia Mineração (BAMIN), onde há uma demanda de investigação independente sobre a atividade na região. Esse cenário preocupante se reproduz em grande parte do estado, como pontua Adrielly Régis, Enfermeira e militante do MAM:
“Mais da metade dos municípios da Bahia estão com projetos de mineração ativos. Essa realidade produz diversos danos à saúde das comunidades e à saúde dos/as trabalhadores/as. Diante desse cenário é possível afirmar que o modelo de mineração atual é um problema de saúde pública.”
Ary Miranda, médico e professor da Escola Nacional de Saúde Pública da Fiocruz, em sua fala analisou vários aspectos do atual modelo econômico vigente no mundo, o capitalismo, e como seu modus operandi visa expropriar cada vez mais a classe trabalhadora de direitos e, consequentemente, dos seus territórios. De forma dialética, ressaltou a importância de entendermos que “não tem como pensar mineração aqui, só pensando aqui”, já que a mineração predatória não é uma problemática isolada de cada região onde chega, logo precisamos entender esses avanços do grande capital internacional sobre nossas riquezas naturais.
O professor coordena o Projeto “Mineração e impacto socioambiental”, que é resultado de uma colaboração entre o Movimento pela Soberania Popular na Mineração (MAM) e a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), em parceria com a Vice-Presidência de Ambiente, Atenção e Promoção da Saúde (VPAAPS) e tem como objetivo ampliar o entendimento dos impactos socioambientais provocados pela atividade mineradora nos territórios minerados, para a classe trabalhadora do setor e população impactada.
A programação do seminário ocorreu durante todo o dia. Pela manhã foi apresentado o debate sobre reconfiguração do mundo do trabalho, sobre saúde e mineração e os desafios da região diante da expansão da atividade mineradora. Beniézio Carvalho, agente da CPT sub-regional Sul-sudoeste da Bahia, pontua que “com a chegada da BAMIN, aprofundou-se a especulação mineral” nos municípios do chamado “alto sertão” do estado e teve impactos nos modos de vida de diversas populações, principalmente rurais.
Antônio, morador da comunidade de Cubículo, em Pindaí, ao falar sobre como as mineradoras agem ao chegar a um território, conta que “Onde eles passam, eles passam procurando as pessoas individual, nao aceita a coletividade. Individualiza as pessoas, o problema é coletivo e vai acertando com cada um e quando chega em um que não querer, eles passam por cima.” A liderança comunitária afirma que “nós precisamos fazer esse enfrentamento e fazer um plano de ação para que outras comunidades não sejam atingidas com essa mineradora que porventura vai vir”. O agricultor lembra também sobre a importância de lembrarmos que também existe na região o avanço da instalação de parques eólicos, que muito são prejudiciais para as comunidades de seu entorno.
Leila, que cresceu na comunidade de Taquaril dos Fialhos, em Licinio de Almeida, convoca os estudantes a pesquisar mais sobre a questão mineral na região pois “não basta só a gente falar, parece que precisa ter o documento institucionalizado reconhecendo a nossa tradicionalidade [fundo e fecho de pasto], o nosso direito de viver no território sem mineração.” Relembra também que mesmo no contexto da pandemia, embora na comunidade vivam muitos idosos, “a empresa [Vale do Paramirim], começou a intensificar o assédio e chegou ao ponto do próprio João Cavalcanti [presidente] ir à comunidade ameaçar, intimidar”.
À tarde, a professora e doutoranda em Geografia pela UFS (Universidade Federal de Sergipe), Fernanda Rodrigues, falou sobre sua tese “Desafios teórico-metodológicos e possibilidades de investigação científica nos territórios em conflito com a mineração no Centro-sul baiano”. Na apresentação, a profª apresentou dados sobre o Projeto Pedra de Ferro, quais são as principais dificuldades na coleta dessas informações e qual o papel da pesquisa na luta em defesa dos territórios em que a mineração predatória chega.
Contamos também com a exposição do Profº Dr. Manoel Alves, que leciona no curso de Geografia da UNEB Campus XII, sobre os impactos da exploração mineral sobre nossa biodiversidade e ecossistemas.
Além disso, foi apresentado proposta de trabalho de pesquisa a ser desenvolvido, a metodologia e os objetivos para investigação dos impactos da mineração no território, ficando encaminhado a continuidade da articulação e discussão sobre a pesquisa.
Conteúdo colaborativo:
Movimento pela Soberania Popular na Mineração
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