Há um ano comunidades de Riacho Fundo, Barreiro, Barreiro do Mato, Taquaril dos Fialhos, Boiada, Brejo e São Domingos do estado da Bahia, se uniram contra a BAMIN.

Por Ananda Ridart

 

Na beira da BA-156, um corajoso ato de resistência começou a tomar forma. As comunidades de Riacho Fundo, Barreiro, Barreiro do Mato, Taquaril dos Fialhos, Boiada, Brejo e São Domingos do estado da Bahia, se uniram para enfrentar a mineradora Bahia Mineração Ltda (BAMIN) e suas operações de mineração que trouxeram uma série de problemas e impactos devastadores para suas vidas.

2006: O Nascimento da BAMIN

A BAMIN surge em 2006, após a descoberta da mina Pedra de Ferro, uma mina rica em minério de ferro que se tornaria o epicentro de uma série de conflitos e problemas. A empresa é controlada pela Eurasian Resources Group (ERG), do Cazaquistão.

2008: Início das Desapropriações

Dois anos depois, em 2008, a BAMIN iniciou um processo de desapropriação que afetou diretamente 18 famílias, totalizando 52 pessoas, nas comunidades quilombolas de Antas e Palmito, nos municípios de Caetité e Pindaí.

A partir desse momento, as consequências da BAMIN começaram a afetar dezenas de comunidades por anos, causando problemas como poeira constante, resíduos de minério de ferro que prejudicou a agricultura, a saúde das pessoas e até explosões que causaram rachaduras nas casas. Além disso, a empresa fazia uso indiscriminado da água, ameaçando os recursos hídricos da região.

26 de setembro de 2022: Início da Ocupação

O ponto de partida foi a ocupação da rodovia BA-156 em Licínio de Almeida. Essas comunidades exigiram uma audiência pública com a BAMIN para obter esclarecimentos sobre o uso da rodovia no transporte de minério. A BAMIN não havia previsto essa atividade em seu projeto de exploração da mina Pedra de Ferro. As consequências eram claras: poeira, resíduos de minério assentando nas lavouras, doenças respiratórias, rachaduras nas casas e ameaça ao abastecimento de água potável.

13 de outubro de 2022: Manifesto dos Movimentos Sociais

 Menos de um mês após o início do acampamento, movimentos sociais emitiram um manifesto em apoio às comunidades. As vozes se uniram em uma denúncia coletiva dos abusos e violações da BAMIN, exigindo justiça e reparação.

24 de outubro de 2022: Ocupação dos Trilhos do Trem

A população ocupou os trilhos do trem que transportava minério na região, bloqueando seu fluxo por 30 horas. Os moradores de Licínio de Almeida estavam determinados a fazer sua voz ser ouvida. A rota de escoamento do minério de ferro explorado pela BAMIN ia de Brejinho das Ametistas até Licínio de Almeida. A população exigia um diálogo imediato da empresa e do Estado para resolver as sérias violações denunciadas pelas famílias trabalhadoras e organizações.

4 de janeiro de 2023: Tentativa de Remoção sem Acordo

A pressão não cessou. Em janeiro de 2023, houve tentativas de remoção forçada, mas a população permaneceu firme.

13 de janeiro de 2023: Reunião com SEINFRA e Início da Desocupação

Finalmente, em 13 de janeiro de 2023, uma reunião com a Secretaria de Estado de Infraestrutura (SEINFRA) abriu caminho para o início da desocupação.

Ainda em janeiro de 2023: Ocupação da BA-210

Enquanto a luta em Licínio de Almeida continuava, comunidades de Sento Sé, no norte da Bahia, também se levantavam. Elas ocuparam trechos da BA-210 em protesto contra os impactos do Tombador Iron Mineração, que planejava explorar minério de ferro na Serra da Bicuda, afetando comunidades tradicionais ribeirinhas e de fundo de pasto.

26 de setembro de 2023: Um Ano Após o Início da Ocupação

Um ano após o início da ocupação na BA-156, as comunidades alcançaram algumas vitórias. O número de caminhões transportando minério foi reduzido, eles passaram a ser cobertos com lona e tiveram suas velocidades diminuídas, com fiscalização rigorosa. A SEINFRA se comprometeu com o asfaltamento da rodovia. Essas conquistas demonstram que a resistência é eficaz.

“Mas a principal vitória do acampamento na BA-156 foi a demonstração de que é possível o povo, organizado e mobilizado, reivindicar seus direitos e diante de uma mineradora, ainda que gigante. O povo pode decidir sobre a mineração. Essa foi uma experiência importantíssima para Licínio de Almeida e um exemplo para todas as outras populações que vivem em contradição com a mineração”, destacou Ione Rochael, militante do MAM que esteve nas ocupações.

Em meio aos desafios e conquistas, a jornada contra a BAMIN continua. O Movimento pela Soberania Popular na Mineração permanecerá engajado e incansável na defesa dos direitos das comunidades afetadas e na busca por justiça ambiental. Unidos, continuaremos a trilhar o caminho da resistência, da esperança e da construção de um futuro mais justo para todos.

 

Movimento pela Soberania Popular na Mineração