As características do modelo mineral e sua influência na saúde e nos ecossistemas foram debatidas criticamente no evento

Por: Márcio Zonta 

 

O Seminário Mineração, Saúde e Ecossistema, realizado na Câmara Federal, em Brasília no dia 22 de maio, organizado pelo Movimento pela Soberania Popular na Mineração – MAM e Fundação Oswaldo Cruz- Fiocruz, trouxe o contexto da relação da atividade de mineração com a afetação à saúde dos trabalhadores e moradores de comunidades mineradas e as transformações dos ecossistemas pela atividade extrativa. 

Airton Faleiro, deputado federal (PT- PA) – Foto: Mauricio C.

Na abertura do evento, o deputado federal Airton Faleiro (PT- PA) ressaltou a importância do surgimento do MAM para organizar a população em contradição com a mineração e a parceria junto a Fiocruz para elucidar sobre os dilemas da saúde nas áreas mineradas. “O MAM tem uma atuação fundamental nas populações atingidas pela mineração, e esse projeto com a Fiocruz é crucial para debater o tema conjuntamente à saúde”.

O médico Mário Parreiras, Auditor do Trabalho do Ministério Público do Trabalho de Minas Gerais, abriu a mesa Saúde e Mineração e chamou atenção para o alto índice de mortes de trabalhadores do setor mineral. “A mineração mata mais que todas as outras atividades econômicas no Brasil, comparado pelo número de trabalhadores empregados, chegando a ser quase 3 vezes mais letal”.

Dentre as causas das mortes, o médico listou explosões, atropelamentos, eletrificações, rompimento de barragens e inalação de gases e poeira constantemente. Segundo os estudos coordenados por Parrela, “a mineração terceiriza muito, e são esses trabalhadores que mais morrem, hoje sendo uma parcela de mais de 50% de trabalhadores terceirizados”.

Modelo

Na sequência da mesa, Marta de Freitas, da direção nacional do MAM, falou sobre as características do modelo mineral Brasileiro: “A mineração gera menos de 1% de empregos no Brasil, mas seu discurso é mentiroso dizendo que gera muitos cargos, além de ter descaso com as comunidades e desrespeito com a legislação brasileira”, sintetiza.

Marta de Freitas, mestre em Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente, com pós-graduações em Engenharia de Segurança do Trabalho e Higiene Ocupacional –  Foto: Mauricio C.

A deputada federal, Ana Pimentel (PT- MG), falou sobre os desafios dos parlamentares diante das mazelas provocadas pela questão mineral no país. “Nosso papel é discutir e tentar a mudança desse modo extrativista mais predatório e perverso do mundo, que é a mineração. Portanto, outro modelo civilizatório de utilização de bens naturais deve ser pensado e realizado”.

A parlamentar salientou, também, sobre as ações do governo de Minas Gerais priorizando a mineração em detrimento de outras atividades econômicas. “O Zema prioriza extremamente a mineração, querendo a abertura de novas minas a todo custo, causando impactos nas águas, na agricultura e na vida das pessoas”, complementou.

A deputada federal Juliana Cardoso (PT- SP), saudando o seminário, criticou a relação da sociedade capitalista na utilização da mineração. “Precisamos reverter a mineração que temos hoje para uma mineração que atenda beneficamente a população brasileira”.

Rogério Corrêa, Deputado federal (PT- MG) – Foto: Mauricio C.

O deputado federal Rogério Corrêa (PT- MG), reclamou sobre as negociações das mineradoras que não atendem adequadamente às vítimas de rompimento de barragens em Minas Gerais. “As mineradoras não garantem nada a vida das pessoas que foram lesadas, e tampouco, repõem o ônus econômico que causou ao estado brasileiro e a Minas Gerais”.

Mineração e Ecossistema

A forma de alteração dos ecossistemas provocados pela mineração foi abordada na parte da tarde. O deputado federal Nilton Tatto (PT- SP), elencou vários exemplos de contaminação das florestas e águas e recordou da mineração de chumbo, no Vale do Ribeira em São Paulo, onde predomina a Mata Atlântica.

Célia Xakriabá, Deputada federal (PSOL- MG) – Foto: Mauricio C.

“Tive a oportunidade por muitos anos de trabalhar no Vale do Ribeira e acompanhei os efeitos da mineração de chumbo e mesmo com 25 anos depois de paralisação de atividade ainda existem níveis consideráveis de contaminação no Rio Ribeira”.

O pesquisador da Universidade Federal de Viçosa (UFV) de Minas Gerais, Tadzio Coelho, apresentou a face da mineração no Brasil e sua interferência nos ecossistemas e elencou os impactos na natureza. “Deflorestamento, contaminação das águas, solo e subsolo, do ar elevando o número de doenças da população”.

Para terminar, a deputada federal Célia Xakriabá (PSOL- MG), cobrou mobilização social dos movimentos populares no tema da natureza e disse que a mineração nada tem a somar de melhorias para a sociedade brasileira. “A pauta ambiental é uma pauta humanitária e der ser a luta de todos e todas e a mineração se fosse verdade que é sinônimo de riqueza não deixaria Itabira e Itabirito em Minas Gerais em extrema pobreza depois de tantos anos dessa atividade”.

O Seminário foi promovido  no bojo do projeto “Abordagens sobre o Impacto Socioambiental da Mineração, parceria MAM e Fiocruz.

 

 

Movimento pela Soberania Popular na Mineração.