O Movimento pela Soberania Popular na Mineração (MAM) e a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), por meio do projeto Abordagens sobre o impacto socioambiental da mineração no Brasil, promovem o II Diálogos da Mineração. Esta série de três lives programadas para novembro e dezembro reunirá professores, pesquisadores e lideranças comunitárias para discutir os impactos da mineração no Brasil, abordando temas como as consequências climáticas da exploração predatória, a transição energética e a relação entre mineração, saúde e pobreza.
Contexto: O Modelo Mineral Brasileiro e Suas Consequências Climáticas
O modelo mineral brasileiro, voltado principalmente para a exportação de commodities, tem promovido uma exploração intensiva e predatória dos recursos naturais. Essa abordagem contribui para a crise climática ao causar desmatamento, emissões de gases de efeito estufa e comprometimento da biodiversidade, o que coloca em risco o meio ambiente e o bem-estar das comunidades locais. Em um contexto de mudanças climáticas e crescente demanda por recursos e minérios como o lítio, repensar o modelo mineral mais justo deve se basear na ideia de centralizar as pessoas e suas necessidades na tomada de decisões.
Historicamente, a mineração tem sido uma indústria marcada pela exploração de recursos naturais em nome do crescimento econômico, muitas vezes às custas das comunidades locais, dos povos indígenas e do meio ambiente. Em muitos casos, as populações afetadas são ignoradas ou marginalizadas, sem poder real de influenciar as decisões que afetam suas vidas, territórios e culturas. Por isso, é fundamental que as políticas e práticas mineradoras evoluam para garantir que as comunidades sejam verdadeiramente ouvidas e tenham um papel ativo nas decisões sobre o uso dos recursos naturais.
Proposta dos Diálogos
No primeiro encontro, os convidados — professores e pesquisadores — discutirão a relação entre mudanças climáticas e mineração, e os efeitos dessas mudanças na saúde pública, trazendo alternativas para um modelo mineral que respeite o meio ambiente e o bem-estar das populações.
O segundo debate explora a relação entre mineração e pobreza, analisando como o modelo mineral brasileiro contribui para a concentração de renda e a exclusão social nas regiões afetadas pela exploração. Os debatedores, professores e pesquisadores, oferecerão uma análise crítica e discutirão possíveis alternativas para um modelo mais justo.,
Na terceira live, será discutido o papel do lítio, que está em alta demanda para tecnologias limpas, e os impactos ambientais e sociais da nova corrida mineral. As convidadas, especialistas e militantes, apresentarão perspectivas sobre a transição energética e a necessidade de práticas sustentáveis.
Para Adrielly Regis, enfermeira popular e militante do MAM, o modelo de mineração vigente no Brasil precisa ser problematizado. Ao contrário da narrativa das mineradoras, que anunciam progresso e emprego, a realidade vivenciada pelos trabalhadores do setor e pelas comunidades no entorno das minas, ferrovias e portos é marcada por diversas violações de direitos, disputa por território e fontes hídricas, contaminação exacerbada do solo, da água e do ar, precarização e insalubridade no ambiente de trabalho. “Todos esses aspectos são determinações das condições de adoecimento humano; ou seja, devem ser vistos e tratados pelo Estado como problemas de saúde pública, pensando na perspectiva da prevenção e promoção da saúde para os trabalhadores e comunidades impactadas pela mineração. Não podemos mais fechar os olhos para um modelo que segue colonizando os territórios de forma predatória para alimentar o capital internacional.”
Adrielly completa: “É preciso avançarmos na soberania sobre nossos recursos naturais, mas que seja uma soberania popular, onde o povo possa participar das decisões que dizem respeito às suas vidas, aos seus territórios e às suas comunidades. Essa é a base do modelo de mineração que defendemos. Não há transição energética justa sem a participação ativa e consciente do povo brasileiro.”
Histórico dos Diálogos da Mineração e Atuação do MAM
Criados em 2021, ainda durante a pandemia, os “Diálogos da Mineração” surgiram como uma série de lives críticas, com o objetivo promover debates críticos sobre o modelo mineral brasileiro seus impactos sociais, econômicos e ambientais, possibilitando uma interação direta com o público, criando um espaço democrático para o debate e a troca de ideias em tempo real. A série, organizada pelo MAM e pela Fiocruz, já foi realizada em sete estados brasileiros — Pará, Maranhão, Goiás, Bahia, Minas Gerais, Ceará e Rio Grande do Sul —, capacitando lideranças locais e fomentando o conhecimento sobre os impactos da mineração, visando fortalecer as comunidades e conscientizar sobre a importância da sustentabilidade e justiça social.
No âmbito da saúde pública, a mineração causa impactos graves nas comunidades, como contaminação da água, do solo e do ar por substâncias tóxicas, levando a doenças respiratórias, cardiovasculares e câncer. Além disso, as condições de trabalho nas minas expõem os trabalhadores a riscos elevados, resultando em doenças ocupacionais e acidentes graves.
Confira a Programação
Live 1: “Crise Climática, Saúde e Mineração”
Data: 13 de novembro – 18h às 20h
Mediação: Iara Fernandes (Socióloga, pesquisadora e dirigente nacional do MAM-Rio Grande do Sul)
Debatedores:
Monica Bruckmann (Cientista política, professora da UFRJ)
Emiliano Maldonado (Pesquisador e professor da UFRGS)
Live 2: “Mineração e Pobreza no Brasil”
Data: 4 de dezembro – 18h às 20h
Mediação: Fabrícia Carvalho (Assistente social, professora e dirigente nacional do MAM-Maranhão)
Debatedores:
ilva (Professor de Economia da Unifesspa)
Jerê Santos (Militante do MAM-Pará, Coletivo Estadual de Negritude)
Live 3: “Lítio, a Bola da Vez!”
Data: 10 de dezembro – 18h às 20h
Mediação: Adrielly Regis (Enfermeira popular, mestranda em Saúde Pública, militante do MAM-Bahia)
Debatedoras:
Soraya Tupinambá (Militante ambiental – Ecologia política)
Marina Oliveira (Professora de Relações Internacionais, militante do MAM-Minas Gerais)
As lives serão transmitidas pelas plataformas do movimento. As inscrições podem ser feitas pelo formulário online a partir do dia 11 de novembro https://forms.gle/9hmAL2HURS5Gzg4W6. Participe e acompanhe essa discussão essencial para o futuro da mineração e a construção de um modelo de desenvolvimento mais justo e ambientalmente responsável.
Movimento pela Soberania Popular na Mineração
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