O governo do Estado do Ceará lançou, recentemente, o Atlas Geológico e da Mineração do Estado do Ceará. A ferramenta apresentada no início de junho, durante a 3ª edição do Fortaleza Brasil Stone Faire, em Fortaleza, disponibiliza informações sobre as principais riquezas minerais do Estado, bem como seus títulos legais.
Apresentado pela Adece – Agência de Desenvolvimento do Estado do Ceará, em parceria com um conjunto de secretarias do Estado, o Atlas permite também visualizar toda a infraestrutura hídrica, ferroviária, rodoviária, portos, aeroportos e linhas de transmissão de energia existentes em território cearense.
Durante o lançamento, a presidenta da Adece, Nicolle Barbosa destacou que o Atlas é um instrumento fundamental para a atração de novos investimentos ao Estado do Ceará. “Principalmente relacionados à construção civil, agronegócio e indústria de transformação. Destaco ainda o conhecimento geológico como instrumento imprescindível para o planejamento urbano e obras de infraestrutura”.
A Adece também divulgou que, cerca de 35 empresas do Sudeste estão com pesquisa e extração no Estado que vem se consolidando como o 3º maior exportador de rochas do país.
Como parte da estratégia de atrair mais investimentos para o Ceará, em outubro de 2016, o governador Camilo Santana apresentou para um grupo de empresários o CIPP – Complexo Industrial e Portuário do Pecém e a Zona de Processamento de Exportação do Ceará. O CIPP é composto por uma termelétrica que funciona à carvão mineral (o pior dos combustíveis em termos de poluição e impactos socioambientais conforme a Agência Nacional de Energia Elétrica – ANEEL), uma siderúrgica (Companhia Siderúrgica do Pecém – CSP) e tantas outras indústrias (Cimento Apodi, Wobben Enercon, Termaco), entre outras.
Para o MAM – Movimento pela Soberania Popular na Mineração todas essas atividades econômicas, em especial as que envolvem mineração ou a queima do combustível mineral, demandam o uso de um grande volume de água. “Termos um evento internacional na Capital cearense que abre as portas do Estado para a exploração de minérios ornamentais, é no mínimo uma grande contradição, pra não dizer irresponsabilidade com o povo cearense que há pelo menos seis anos vem vivendo sob uma grave crise hídrica”, destaca Iara Fraga, da coordenação estadual do MAM no Ceará.
Crise Hídrica
A crise hídrica no Ceará não está relacionada somente a um processo de mudança climática, nem às questões de ordem da natureza semiárida ou do saneamento básico. Além dessas questões, as escolhas econômicas feitas pelo Governo do Estado, à exemplo do Fortaleza Brasil Stone Fair, são responsáveis diretas por tal crise.
De acordo com o professor Alexandre Costa, Físico e Doutor em Ciências Atmosféricas, da Universidade Estadual do Ceará, as melhores reservas de água do Estado têm sido maltratadas e poluídas. “Como o caso do aquífero Jandaíra, localizado entre os estados do Rio Grande do Norte e Ceará, contaminado pelos agrotóxicos utilizados pelo agronegócio de fruticultura irrigada do Jaguaribe”.
Ainda segundo o Professor, em 2015, ” 114 açudes [estavam] com volume médio inferior a 30%, cinco açudes com volume acima de 90% e um açude sangrando”. Eram 67 cidades em situação de emergência e cinco municípios em situação de colapso hídrico.
Além disso, as populações dos territórios que acolhem as jazidas de rochas ornamentais, sequer são consultadas sobre os processos de exploração e beneficiamento daquelas. Ao contrário, as comunidades próximas têm seu cotidiano modificado, com possibilidade de agravos relacionados á saúde.
“Mais que vender nossas rochas ornamentais e, consequentemente, vender nossas águas, o governo do Estado deve caminhar pelos territórios onde se encontram grande parte das jazidas e enxergar a verdadeira riqueza que beneficia o povo, advinda da agricultura familiar e camponesa”, destaca Iara Fraga.
Por Comunicação MAM, com informações do Governo do Ceará
Comentários