Arsênio, mercúrio, chumbo, alumínio, ferro e cobre foram encontrados no ambiente acima dos limites estipulados, segundo Relatório Técnico do Instituto Evandro Chagas

*Texto por Dioclécio Gomes, da página do MAM

Há quatro anos os barcarenenses sofriam com o transbordo de resíduos químicos provenientes do Depósito de Resíduos Sólidos (DRSI), um acidente de trabalho ampliado da multinacional Norks Hydro. Esse fato é uma das diversas contaminações ocorridas no município que abala a saúde dos moradores da região. “A água da cidade é imprópria para o consumo e isso causa problemas sérios de saúde para a população”, afirma Simone Pereira, Doutora em Química pela Universidade Federal da Bahia (UFBA).

A pesquisadora, que atua em estudos com o tema da poluição por elementos tóxicos nos recursos hídricos da Amazônia, além de diversos outros problemas ambientais causados pelas indústrias e mineração, alega que as contaminações em Barcarena afetam outras regiões ao longo do curso dos rios. “Eu acompanhei uma pluma de poluição saindo do Caripi em Barcarena até a baia de Marapatá, no sul da ilha do Marajó. Acredito que essa poluição se distribui pelo percurso”, alerta.

Histórico
O naufrágio da Balsa Miss Rondônia, com o derramamento de 2 milhões de litros de óleo no rio Pará, ocorrido em 2000, é o início dos registros de contaminação nos rios em Barcarena. Desde esse período, as mineradoras também não deixaram por menos, contabilizando 26 ocorrências em relação à indústria mineral no município, conforme levantamento da Universidade Federal do Pará (UFPA).

Em uma delas, em 2009, a Alunorte – pertencente à Vale S.A – ocasionou o vazamento de lama vermelha no rio Murucupi. Em 17 de fevereiro de 2018, já sobre domínio da Hydro, a Alunorte voltou a despejar resíduos tóxicos no mesmo rio. “O rio Murucupi foi o principal afetado em 2009, nós atuamos naquela época e constatamos nas análises grandes quantidades de alumínio”, conta Simone.

Em 2018, 13 comunidades foram afetadas diretamente pela contaminação nos igarapés Bom Futuro, Burajuba e Rios Murucupi e Tauá, todos pertencentes à bacia do rio Pará.

Contaminação

Arsênio, mercúrio, chumbo, alumínio, ferro e cobre foram encontrados no ambiente acima dos limites estipulados, segundo o Relatório Técnico do Instituto Evandro Chagas, que fez as pesquisas após o incidente.

“O chumbo causa doenças que afetam o sistema nervoso, o cádmio causa a doença do itai-itai que causa a degeneração óssea. O alumínio causa Alzheimer e ainda tem o ferro que, em altas concentrações, causa problemas enzimáticos”, explica a professora Simone.

O quilombola Mario Santos, militante do Movimento Pela Soberania Popular na Mineração (MAM) e morador de Barcarena, se preocupa com a contínua contaminação e impunidade. “O igarapé dendê continua poluído por completo, e os rios Curuperé e o Murucupi estão contaminados. O rio Pará continua recebendo todo o rejeito, tanto do esgoto da cidade como dos crimes ambientais, que contaminam as águas com produtos químicos”, diz.

Imerys
Em dezembro do ano passado foi a vez da mineradora Imerys contribuir para contaminar ainda mais Barcarena. Uma explosão no complexo da mineradora espalhou uma fumaça branca provocando um forte odor prejudicial à saúde da população.

“Se for comprovado que houve desprendimento de enxofre ou sulfeto para atmosfera, pelo Instituto Evandro Chagas, provavelmente, houve chuva ácida. A chuva ácida lixivia os elementos do solo e, como em Barcarena tem muitos elementos tóxicos no chão, eles acabam sendo levados do solo aos rios”, alerta a pesquisadora Simone.