A Vale, embora verde e amarela em sua simbologia, muito pouco ou quase nada se reverteu em processo benéfico ao povo brasileiro ao longo de sua existência. Toda riqueza mineral, estratégica para soberania econômica e social de qualquer país, sempre esteve atada as impessoalidades da burguesia brasileira, que também a disputa, ferrenhamente, neste momento de crise política no país.

Para entender este momento, é necessário voltar à formação da Vale e quatro fatos importantes de sua história. O primeiro é seu surgimento na década de 1940, quando foi arregimentada como uma estatal pelo presidente Getúlio Vargas, mas com a ingerência internacional dos Estados Unidos e Inglaterra, que precisavam de matéria-prima (minério de ferro) para sua indústria bélica na Segunda Guerra mundial. Assim, passou a existir e persistir um controle da Vale por parte de uma burguesia interna sempre com os olhos voltados para fora do país e um capital internacional industrial e financeiro ávido pela riqueza acumulada pelos minerais brasileiros.

O segundo momento, é o descobrimento da maior jazida de minério de ferro do mundo nos anos de 1960 na Serra de Carajás, que fez novamente a dobradinha dominadora (burguesia interna e capital internacional) aparecer na característica da exploração mineral no Pará. Os militares – que estavam no poder a partir do Golpe Militar -controlavam a região com intensa intervenção militar e liberando as pesquisas à empresa estadunidense US Steel, colocando a Vale à mercê do plano explorador.

Em 1997, o presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) privatiza a Vale e a coloca contra os anseios da soberania do país, é este o terceiro momento da história da mineradora. A privatização é marcada pelo apoio do coletivo da burguesia brasileira – como o Banco Bradesco e pelo capital internacional – Banco Morgan Stanley (financiadora estadunidense), ambos organizaram o leilão fraudulento e depois se beneficiaram com compra de ações na empresa. Baseado neste último apontamento, a legalidade da privatização é contestada até hoje na Justiça por mais de 100 ações populares, que estão nas mãos do ministro Gilmar Mendes no STF.

O quarto momento da história da Vale é destacado pela disputa intra golpista para o domínio de sua direção. As gravações de um dos donos da JBS, Joesley Batista, apresentadas na última semana, evidenciam que a ala tucana da Vale não está satisfeita com as influências do PMDB no seio da mineradora. Nos últimos anos, o PMDB vem controlando o setor mineral no Brasil nomeando seus pares nos departamentos correspondentes a exploração de minérios e acirrando dentro do bloco golpista de agora o poder de empossamento dos diretores da empresa Vale.

As mudanças na composição acionária da empresa com objetivo de torná-la mais pró-mercado, foi o primeiro passo do governo golpista para alterar o “mando” do Governo Federal na indicação do Presidente da multinacional (garantida através dos fundos de pensão – VALEPAR). Atrelado a isso, está a posse nesta segunda-feira (22/05) do novo presidente da Vale, Fábio Schvartsman, que tem como tarefa principal acabar com qualquer influência do Estado na empresa.

Conforme o bloco golpista foi rachando nos últimos dias, as disputas dos bens minerais também entraram no jogo. O senador Aécio Neves (PSDB), afastado das funções de parlamentar pelo Supremo Tribunal Federal desde 18 de maio, tentou emplacar o ex-presidente do Banco do Brasil, Aldemir Bendine, ligado ao sistema financeiro especulativo.

Enquanto a burguesia brasileira atrelada ao capital financeiro se degringola, o povo brasileiro fica à margem das decisões da mineração no país – os territórios com falta de água, poeira nas casas, câncer, violência, prostituição, alcoolismo e uma grande pobreza alicerçada na riqueza proporcionada pela mineração. Com essa disputa o povo brasileiro, que está nos territórios em conflito com a mineração, terá o seu modo de vida ainda mais alterado, pois a lógica imposta pelo capital financeiro é uma das mais perversas para quem está na ponta.

A única saída para alterar a correlação de forças é através da luta e organização popular. Só esses dois elementos podem barrar todos os retrocessos encabeçados pelo governo golpista de Michel Temer no último período. No dia 24 de maio será a vez de o povo brasileiro lutar, mais uma vez, contra a retirada de direitos e em defesa da democracia, encabeçada por duas palavras de ordem: Diretas Já e Fora Temer.

 

MAM – Movimento pela Soberania Popular na Mineração

“Por um país soberano e sério, contra o saque dos nossos minérios”

Crédito Foto: Avener Prado/Folha Press